quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

         Nós, seres humanos, desde o início dos tempos, temos questionado o porquê de toda a nossa existência, e todas as explicações possíveis residem em duas massivas teorias: criacionismo e evolucionismo. Todos sabemos em que é que elas assentam e defendem até aos dentes, os vários conflitos entre ambas e o sambe derramado que deles sucedeu. Contudo, nos tempos que correm parece existir uma certa harmonia, havendo inclusive estudos científicos de obras religiosas. Não procuro falar de ciência, mas sim, talvez, filosofar um pouco. Todos conhecemos os três níveis que nos esperam após a chegada da nossa hora. Todos sabemos no que cada um consiste, nem que seja uma definição que nos surja através do seu próprio nome. Porém, como serão eles realmente? Serão iguais para todos, ou cada um viverá o seu? O percurso já foi traçado uma vez em séculos já idos, e mudou totalmente a visão que o mundo tinha destas paisagens.
            Pretendo voltar a seguir o mesmo percurso. Já entrei a colossal entrada com as célebres palavras “Deixai toda a esperança, vós que entrais”. Examino-a durante tempo incerto. Um guia não me aparece. Talvez surja durante o percurso, ou simplesmente terei de o percorrer sozinho, e assim mesmo enfrentar os horrores que aqui se escondem.
            Sigo em frente e começo a desce a gruta escura como o breu, usando o meu tacto e avançando cautelosamente para não cair rumo ao desconhecido. Estão mais intensos os gritos de dor e os lamentos que já ouvia no exterior. Sentir um arrepio na espinha foi inevitável, principalmente quando comecei a sentir gargalhadas que de certo não eram humanas. Para o que se seguiu, bastou um passo em falso. A terra que me suportava desabou, e dei por mim a escorregar por ali abaixo. Não sei como não gritei, talvez tivesse deduzido inconscientemente que seria melhor não o fazer para não atrair atenções indesejadas.
            Do nada gigantescas chamas surgiram perante mim, quase cegando os meus olhos já habituados às trevas, e decerto que me teriam queimado vivo se tivesse a passar de pé. Logo a seguir a elas o chão acabou, e instintivamente rodopiei para me agarrar a alguma coisa, e acabei por me agarrar a uma berma, ficando suspenso apenas por uma mão, a balançar de um lado para o outro. Segurei-me com a outra para recuperar o fôlego, e dados os gritos e gargalhadas ensurdecedores, o intenso calor que se fazia sentir e a minha curiosidade, olhei para baixo. Nunca vai tão horrendo espectáculo. Milhares de corpos contorciam-se de dor, esquartejados, torturados, violados e devorados por todos os tipos de demónios. A mais actos assisti, mas não faço a mínima ideia que eram. As minhas narinas foram assoladas pelos cheiros nauseabundos de carne podre, sangue e excrementos, tudo misturado em algo tão intensamente nojento que ia perdendo as minhas forças. Esforcei-me para subir, e lá consegui. Levantei-me e limpei a terra das minhas roupas. Aproximei-me da berma e voltei a olhar para baixo. Foi bastante fácil reconhecer o circulo da Luxúria, da Gula e da Ganância. Respectivamente, os corpos desnudados que outrora viviam apenas do prazer carnal, corpos inchados a chafurdar de barriga para baixo e de boca aberta nos dejectos que resultaram da sua abundante e interminável fome, e as almas a banharem-se em ouro derretido.
            Afastei-me da berma. Fechei os olhos e inspirei fundo. Olhei em frente para o negro rio que mais não podia ser que o rio Aqueronte, onde o macabro barco de Caronte me aguardava, a mim, e mais umas pobres (ou nem tanto) almas.

            Bem-vindos ao meu Inferno.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

            - Porque é que me chamaste?
            - Ainda tens a lata de me perguntar isso?
            Do interior do seu capuz negro e corroído, lançou-me um olhar que seria capaz de arrepiar e até mesmo de despedaçar qualquer espinha, mas não a minha.
            - Devias ter mais cuidado com as palavras que usas.
            - Há alguma razão para isso?
            Começou a grunhir e os seus ossos a estalar por força da minha falta de respeito, e falou mais uma vez, na sua voz vazia e distorcida.
            - Eu exijo respeito!
            - Tens uma moral desgraçada para falar.
            - SILÊNCIO!
            E no fim deste berro atirou a sua foice na minha direcção, cravando o chão mesmo mesmo à minha frente, a poucos centímetros dos meus pés.
            - Esperas que isso me meta medo? – perguntei eu, olhando e colossal foice de cima abaixo – estás assim tão desesperada por respeito ou o que quer que seja que procuras?
            Nada disse, mas também não deixei.
            - Deixa-me dizer-te uma coisa e é precisamente por isso que te chamei… O QUE RAIO PENSAS QUE ESTÁS A FAZER?! Se não estou em erro era suposto tu levares quem merece ser levado, não quem tem ainda tem muito para dar e pessoas de quem cuidar!
            - Eu continuo a fazer o que me compete.
            - Então deixa-me dizer-te que precisas de arranjar uma nova carreira e depressa.
            - Eu não vou tolerar mais faltas de respeito! Um mero mortal acha que me consegue substituir? Blasfémia!
            - Eu não acho, eu tenho a certeza. Não sei o quão bem me conheces, mas dada a tua ignorância, duvido que seja algo que vá para lá do meu nome. Não vale a pena explicar-te filosofias de vida e seus propósitos, se milhares de anos não te meteram juízo na cabeça, não vão ser as minhas palavras que o vão fazer. Ainda assim, vou tentar ser o mais simples e claro para ver se entra alguma coisa nessa cabeça dura. Temos dois tipos de pessoas: os parasitas que vivem à custa dos outros e só estão bem a fazer a vida deles num Inferno, os inocentes, que simplesmente procuram viver uma vida pacata e ajudando quem pode. É suposto tu tratares dos primeiros, não dos segundos!
            - Continuo a levar quem merece ser levado. Assim tem sido desde o início dos tempos.
            - Então ainda fico mais admirado por ninguém te ter despedido.
            Olhou para mim em silêncio por alguns segundos, até que:
            - Tomar a tua alma vai dar-me imenso prazer.
            - E porque não a tomas já? – perguntei eu, abrindo-lhe os braços – vá lá, faz de mim uma mensagem. Mostra a toda a gente que não se podem meter contigo se não vão desta para melhor. Vá lá, estás à espera do quê? De um convite por escrito?!
            Tomou novamente a sua foice, e eu avancei decidido na sua direcção, dizendo a cada passo:
            - Estás à espera do quê? Vá lá, mostra-me do que vales!    
Quando dei por mim, já estava diante dela, tão perto que podia sentir o seu bafo gelado.
- Infelizmente a tua hora ainda não chegou.
- Agora é por horas? Essa é boa.
- Mas o prazer vai continuar a ser todo meu… e ainda assim – distorceu um sorriso – é um tanto ou quanto interessante ver-te a defender a vida de alguns cuja morte tu mais desejas.
- Antes de ser humano sou um animal, e esse tipo de desejos são normais. Ainda assim, e se não estiveres satisfeita com esta resposta, estás a referir-te a uma parte de mim que já não existe.
- Tenho as minhas dúvidas.
Encostei a minha cara à dela, e continuei:
- Estás a meter-te com a pessoa errada, e se continuares com esta palhaçada, eu vou-te mostrar o porquê… e vou fazer muito mais do que tomar o teu lugar, para ser sincero, não o quero para nada, mas vou adorar humilhar-te e escapar ao teu toque.
- Sabes muito bem que isso é impossível. Mais cedo ou mais tarde a tua alma será minha.
- Tanto quanto sei, posso dá-la a alguém que não tu, e isso quereria dizer que a única coisa que irias encontrar seria o meu corpo a apodrecer, a sorrir e mostrar-te o dedo do meio.
Agora o sorriso tinha desaparecido:
- Vá lá, porque é que não me calas de vês? – perguntei eu, sorrindo.
- Terá que ficar para outra altura. Coisas mais importantes chamam a minha atenção.
E dizendo isto, abriu as suas esqueléticas asas e subiu lentamente pelo abismo em que nos tínhamos encontrado.
- Eu vou estar de olho em ti e tenciono cumprir tudo o que disse! Podes falar com os teus irmãos, não me importo, e se te encontrares com o Lúcifer, diz-lhe que eu digo olá.
Como a Morte funciona nunca iremos compreender. Será sempre visto como algo atroz e injustificado, havendo sempre quem diga que aconteceu por bem principalmente quando alguém está em pleno e puro sofrimento. Ainda assim, continua a não haver justiça, em nenhum dos mundos mesmo, pois quem realmente merece partir, está vivo e a transformar este mundo num verdadeiro Inferno.


sábado, 21 de dezembro de 2013

A caminho do horizonte

Parte de mim para mim olha
Levado em lágrimas infinitas,
E agarrado a uma estranha folha,
Começa a murmurar palavras perdidas.

Pede-me misericórdia, que me sente e o compreenda,
Mas tal não me é possível fazer,
Pois os danos por ele feitos não têm emenda,
E por ele durante um longo tempo não pude viver.

Corre na minha direcção perante a minha negação
E desfere débeis socos no meu peito.
Chamá-lo à razão foi a minha intenção,
Mas com ele nada feito.

Era possível viver sem este desfecho,
Com ele apenas a lembrar-me do que merecia ser lembrado,
Mas quereriam as intenções dele este fecho,
E assim perdi o meu passado excessivamente estimado.

Mais uma vez pedi-lhe para parar,
Mas tal ele não quis.
Na minha arma me vi a pegar,
E disparar sobre ele foi o que fiz.

Olhei os estragos por um segundo,
E dei por mim a inspirar fundo.
Assim desapareceu ele deste mundo,
Mesmo debaixo do céu nocturno.

Nenhuma razão realmente houve para tanto sofrer,
Tudo ideias de alguém de pouca idade,
Com muito ainda para aprender
E ainda mais no que toca a descobrir a verdade.

No horizonte vejo nascer a aurora
Algo um tanto ou quanto raro,
E na sua direcção sigo a esta hora,
Deixando morto parte do meu passado.


Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

sábado, 14 de dezembro de 2013

Pelo nevoeiro

Nunca me canso de dizer
O quão espairecido me deixa
Esta última estação praseirosa
Da qual não tenho qualquer queixa.

Do gelo, do vento
E dos novos e agradáveis cheiros
Mas também digo com alento
O quão indescritível é passar pelos nevoeiros.

Acordar imerso neles
Espreitando pela janela e nada ver,
Passar por entre eles
E aos olhos de outros parecer um estranho ser.

Existe sempre uma comparação
Com uma certa cidade ficcional,
Conhecida pelo terror ardente no seu coraçao,
E pelos desafios que coloca a quem fez algo de mal.

Seja pela ficção,
Ou simplesmente por gostar,
Lá me aventuro sempre com um sorriso a esboçar
E, quiçá, talvez encontre D. Sebastião.

















Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Frágeis Momentos


Nunca quis que assim fosse,
Mas por mim o destino quis.
Quis ele uma valente dose
De sofrimento pelas promessas que fiz.

Num certo momento,
Eu repouso feliz.
Noutro, já inesperado e incerto,
Vejo-me a morrer por dentro.

Num momento contigo,
Noutro sem ti,
Quem é o culpado
Por te terem tirado de mim?

Não sei responder,
Nem sequer viver.
Apenas sei
Da dor das “lágrimas” que derramei.

Lágrimas de tinta,
Pois as naturais já as perdi.
Quis assim a vida,
Que, de certa forma, escolhi.

Contudo, apesar do que escolhi,
Preferia ter-te a ti
Não longe,
Mas ao pé de mim.

Saudades dos teus cabelos,
Dos teus abraços,
De te ter ao meu lado
E do toque dos teus lábios.

Não sei se será prudente recordar
Estes outrora feloridos caminhos.
Simplesmente não consigo parar de acordar
E chorar os meus sonhos.

 

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Tempo Reconfortante


O gelo que sinto na minha pálida pele,
E que lhe dá um aspecto mortiço,
Leva-me a lembrar felizes momentos
Que agora vejo, sinto e oiço.

Sempre me foi querido este tempo.
Sempre foi algo de especial,
Como um velho amigo,
Amigo esse que espero sem nunca me sentir mal.

É um ano inteiro à espera da chuva,
E também do vento e de todo o gelo.
Não interessa os defeitos que lhe apontam
Fico sempre feliz por finalmente vê-lo.

Não sei o porquê,
Apenas sei que assim é.
Se não fosse este tempo “tenebroso”,
Não sei onde depositaria a minha fé.

Palavras não passam de palavras,
E um infinito delas não descreve,
Nem de perto
Aquilo que eu sinto ao certo.

Poderia aqui continuar,
Mas estaria a deperdiçar tempo,
Tempo precioso para aproveitar
Cada momento deste tempo.

Sento-me nas telhas à chuva,
Com a cara mal tapada.
Foi preciso que o conforto do gelo chegasse
Para aparecer um sorriso na minha face.

 

 

 

 

 

Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

           Quem diria que eu ia acabar por morrer tão cedo? Quero dizer, não estava mesmo a contar. Estava eu, sossegado, a dar um passeiozito quando de repente oiço um leve assobio e sinto logo de seguida algo a passar-me de um lado ao outro. Deitei logo às mãos à barriga e quase caí ao chão por causa da dor. Logo aí, mais uma surpresa. Tendo em conta a quantidade de sangue e aquele novo buraco, não era preciso muito para chegar à conclusão que tinha acabado de ser baliado. Comecei a olhar para os lados. Estava desnorteado e não sabia muito bem a quantas estava. Assim que olhei em frente, vi uma figura de negro a aproximar-se de mim e a enfiar-me uma bota de biqueira-de-aço mesmo no sítio onde me tinha acertado, atirando-me para trás um ou dois metros. A juntar a isto, assim que eu estava estendido no chão, foi generoso ao ponto de quase esvaziar um carregador. Isto é o que eu chamo “estar a ter um mau dia”, e como um mal nunca vem só, assim que me levantei, praticamente sem forças em lado nenhum para sequer dar dois passos sem voltar outra vez ao chão, ouvi-o a pegar num dos canos de chumbo espalhados por aquela garagem. O que aconteceu a seguir? Bem, num momento estava a tentar ganhar alguma distância, num outro estava a rodopiar no ar, e, quando dei por mim, estava outra vez estendido no chão e com a minha perna direita feita num oito. Como se não bastasse, ergueu o cano e com toda a força que tinha (que não é pouca, devo dizer) teve a gentileza de me partir as duas pernas. Tendo em conta a forma que digo isto, parece que não passa tudo de uma comédia negra, mas não, rir não era uma opção, e tendo em conta os meus gritos, bem, fiquei admirado por não ter aparecido ninguém para ver o que é que se estava a passar.
            Uma coisa é certa, correr ou até mesmo andar estavam agora fora da equação. O que é que me restava fazer? Rastejar, até que me apercebi que não valia a pena. Assim que olhei para trás e o vi, de cara tapada por um cachecol, uns óculos escuros e um capuz, apercebi-me que não tinha escapatória possível. Limitei-me a fazer o que me pareceu ser melhor: ficar onde estava e esperar que acabasse tudo o mais depressa possível. Virei-me de barriga para cima, e cuspindo sangue por todos os lados, pedi-lhe para acabar comigo de vez. Sem dizer uma palavra, apontou a sua pistola à minha cabeça e premiu o gatilho.
            Pelo menos morri às mãos de uma das minhas personagens. Uma morte um tanto ou quanto adequada, acho eu. E se assim não fosse, creio que ia ficar bastante desiludido.






Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

A Morte de um Louco

Impossível me era saber
Que este dia tão cedo chegaria.
A surpresa foi tal
Que nem nos meus melhores dias a primeira bala sentiria.

As mãos à barriga deitei.
Para elas sangrei.
Em frente olhei
E de onde ela veio pensei.

Não tive tempo de responder.
Uma bota veio contra mim
E contra o chão caí
Ainda com menos a perceber.

A cabeça levantei
E mais uma salva de tiros levei.
Quase sem forças, levantar-me tentei
Só para perceber que redondamente errei.

Algo colidiu com as minhas pernas,
Algo rijo o suficiente para as partir.
Não contava aquela garagem com gritos nas suas entranhas,
Mas foi o que fiz, pois não me era possível rir.

Para longe rastejei,
Ou pelo menos tentei.
Lentamente, ele se aproximava,
E reparei que uma pistola ele empunhava.

A intenção dele era clara.
Não me adiantava tentar fugir.
De barriga para cima me estendi,
E para ele me dirigi.

Cuspindo o meu sangue,
Incentivei-o a comigo acabar.
Olhando para dentro do seu capuz,
A sua identidade não tinha que enganar.

Sorri uma última vez enquanto o gatilho era premido.
Apesar de tudo o que podia acontecer,
Fico contente por ter sido às mãos de algo que crio
Que eu acabo por morrer,
Caso contrário estaria um bocado desiludido.


















Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

domingo, 13 de outubro de 2013

Ela chorava baba e ranho enquanto esperava pela melhor altura para sair daquela empoeirada sala de arrumos. A soluçar, abriu a porta uns meros centímetros, e espreitou. Encontrou o corpo da mãe completamente retalhado por cima do tapete, outrora verde, da sala-de-estar. Aliás, a única coisa que ela conseguia ver, era o tronco e um bocado da cabeça, que tinha rebolado até aos pés do sofá mais próximo. Quanto a braços e pernas, encontrava-se um pedaço aqui e ali, ora no chão, ora nos sofás, ora colados nas paredes. Ouviu sons de luta vindos daquela mesma sala. Abriu um pouco mais a porta, e deu o primeiro passo. Assim que o fez, ouviu o som de aço a cortar carne e a partir osso, seguindo-se um doloroso grito e a figura do seu pai a cair no chão, para além da parede que até então o ocultava. Com a mão direita cobriu o golpe que tinha no profundo golpe que tinha no ombro esquerdo, e por onde eram espirrados enormes jactos de sangue. Rodou a cabeça na direcção, estendeu-lhe o braço e no momento em que ia falar, um machado decidiu trespassar-lhe o crânio.
Ela não conseguiu conter o grito, o que se mostrou ser um erro crasso. Tomando o machado e fazendo-se mostrar, apareceu ele, coberto pelo sangue dos pais dela, e rangendo os dentes num arrepiante sorriso.
Ela limitou-se a fazer aquilo que o seu instinto de sobrevivência lhe gritava: “CORRE!”. Correu o mais depressa possível por aquele corredor que levava à saída das traseiras, enquanto ele a perseguia a uma velocidade claramente maior. Aproximou-se da porta, e o terrível hábito de tocar nas paredes quando se preparava para mudar de divisão custou-lhe caro. Ele atirou o machado na sua direcção e apanhou-lhe o braço direito. Imersa naquela horrível dor, deu por ela de joelhos a segurar aquele mesmo braço, que agora pintava a parede de vermelho. Ele aproximou-se e segurou no machado. Olhou-a, curioso para saber o que ela ia fazer a seguir. Nada, absolutamente nada. Limitou-se a ficar ali, a soluçar e sem forças para pedir misericórdia. Farto desta vista, ele depositou todo o seu peso no machado, e, perante isto, o braço não pôde fazer mais nada a não ser deixar-se quebrar, caindo no chão, agora inútil, enquanto a sua dona soltava um grito tal que de certeza que se ouviu em todo o bairro. Havia um rio de sangue agora, e ela tentou fugir mais uma vez. Deu os primeiros passos, mas não passou disso, começou a perder forças, a ficar com a visão turva. Não conseguiu evitar a cair quase inconsciente no chão.
Ele sabia que ela estava a morrer, algo que ele não podia deixar acontecer, ou pelo menos não para já. Tirou o cinto das calças e com ele apertou-lhe o resto do braço o melhor que conseguiu, diminuindo significativamente a quantidade de sangue que se perdia. Depois disto, sentou-a encostada à parede, e perante o ar pálido dela, sorriu mais uma vez. Finalmente podia acabar com ela como tinha planeado.
Sacou da sua fiel navalha, e com ela e começou a faze pequenos cortes em todo o corpo, não deixando escapar nenhuma parte, nem mesmo o angelical rosto que ela tinha. Praticamente não tinha forças para gritar, mas ele queria continuar a ouvi-la, e sabia exactamente como. Tirou um frasco de álcool etílico e derramou-o todo em cima dela. E assim que entrou em contacto com aquelas feridas frescas, finalmente teve o espectáculo que queria. Aquele grito podia muito bem durar horas. Ele ainda ficou alguns segundos a saborear aqueles gritos, até que deixou todo aquele prazer e a vontade de acabar com ela de uma vez por todas assumir o controlo. Tomou o machado mais uma vez e começou a esquartejá-la violentamente como um qualquer animal, começando pelo outro braço e acabando nas pernas. Parou uns segundos para remexer no interior do seu casaco. De lá tirou uma caixa de fósforos. Acendeu um, e deixou-o cair em cima dela, incendiando-a. Outro grito, mas este foi rapidamente silenciado. Pela última vez, ele tomou o machado e lançou-o em direcção ao pescoço, decapitando-a. Como não podia ficar assim, no preciso momento em que a cabeça rebolava na sua direcção, ele recuou uns passos, e correu na direcção dela, pontapeando-a pela janela que se transformou em mil pedaços.

Se pensas que a vida é um conto de fadas, estás bem enganado.

domingo, 6 de outubro de 2013

         Cliché, atrás de cliché. Uma sala desfeita e iluminada por meia dúzia de lâmpadas no fim dos seus dias, uma cadeira de madeira ainda ensopada com sangue fresco do tipo que aqui esteve antes de mim, uma mesa coberta por um conjunto de ferramentas capazes de deleitar qualquer torturador… e um bruta-montes a encher-me de porrada… e aí vem mais um soco. Bolas! Se isto continuar assim ainda me arranca o maxilar. Surpresa das surpresas, as cordas nos meus punhos podiam estar ainda mais apertadas, e acharam que não havia necessidade de me atarem os pés. Vamos a ver se me safo desta antes que perca todo o sangue que tenho no corpo. Será que ainda tenho força nas pernas? Depois das marteladas e do berbequim, não sei até onde posso ir. Aí vem mais um. Parece que ele está desiludido por não gritar. Desculpa, amigo, não és o meu primeiro, mas sempre és melhor que último que me torturou. O pobre coitado quase que desmaiou depois de ver tanto sangue. Calma, isto não é altura para te rires… e este soco foi para aprenderes. Ok, agora a sério. Hm, está a mexer nos brinquedos, a mostrar-mos. Se me queres tentar assustar é melhor teres outra ideia. Oh, olha, uma pistola… isso, aproxima-te. Coloca o cano mesmo no meio dos meus olhos… isso, prime o gatilho enquanto olho para ti, mostra-me do que és capaz. Click. Está descarregada, o truque mais velho no livro. Parece que ele se está a rir e a dizer alguma coisa, mas arreou-me bem ao ponto de não conseguir ouvir nada. Só por isso já subiste uns pontos na minha consideração. Ah, já tenho as mãos quase livres. É só uma questão de… bolas! Esse doeu mesmo. Ok, chega de brincadeiras, pega nessa faca e chega aqui.
            - Porque é que estás a sorrir?
            - Se estivesses no meu lugar também sorrias se estivesses prestes a sair daqui.
            - O quê?
            Como resposta recebeu um pontapé nos genitais, forte ao ponto de os sentir a serem esmagados. Quase de joelhos, largou a faca que empunhava, e que foi apanhada no meio ar por aquele que era suposto ser a sua vítima. Agarrou-o pelo pescoço e sentou-o naquela mesma cadeira.
            - Ora vamos a ver o que conseguimos fazer aqui – disse ele, afundando a faca na perna direita do seu torturador, recuando de seguida, a mancar pesadamente, em direcção à mesa de utensílios. Tirou de lá um conjunto de facas e um bisturi.
            Enquanto avançava, ia arremessando as facas, acertando na barriga, nos ombros, nos braços, nas pernas e nos pés. Aproximou-se, apoiou-se num joelho e começou a retalhar-lhe o corpo, tocando-lhe suavemente com a ponta afiada do bisturi, e começando pelo rosto.
            Enquanto os gritos ecoavam, ele disse:
            - Não sei quem é que te ensinou a torturar, mas quem quer que tenha sido, não te ensinou muito bem – começava a desenhar círculos à volta dos olhos – tens que ter calma, deixar o corpo sentir e digerir a dor, algo que claramente não fizeste muito bem.
            Entretanto desceu para o tronco, e, trespassando a camisola branca, escreveu algo na carne dele. Percorreu o resto do corpo nos minutos seguintes, até que parou ao ver que estava a começar a desfalecer por causa da perda de sangue.
            Levantou-se, regressou à mesa, deixou lá o agora ensanguentado bisturi, e pegou na pistola de pregos.
            - Por favor – gemeu o outro.
            - Não leves isto a peito – disse ele, apontando-lhe a pistola de pregos – simplesmente pediram-te para torturar o tipo erado – e dito isto, disparou seis pregos contra a testa dele, acabando por desenhar um sorridente smile.
            Não perdeu tempo a admirar o que fez. Atirou a pistola de pegos para cima da mesa, avançou até à cadeira que estava ao pé da entrada, e de lá tirou um par de luvas, um casaco e um cachecol pretos e uns óculos escuros. Depois de voltar a vestir a sua indumentária, subiu as escadas que levavam a um escuro e nojento beco.

            Mais tarde viriam a encontrar naquela sala um homem sentado, com um smile feito de pregos na testa e a seguinte mensagem cravada no peito: “Boa sorte para a próxima”.

domingo, 15 de setembro de 2013

Após a depressão sobre ti desabar,
Movida por uma relação desde sempre sem emenda,
Não consigo evitar em te perguntar:
Valeu realmente a pena?






Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

terça-feira, 3 de setembro de 2013

                  Deixem-me contar-vos a história, a história de um homem já nos seus oitenta anos, para ser mais preciso. Ele vivia numa pequena e simpática casa construída pelas suas próprias mãos, e essa casa estava no centro de uma pequena e igualmente simpática cidade.
            Todos os dias o homem sentava-se na cadeira de baloiço que tinha no seu alpendre e cumprimentava sempre de sorriso no rosto quem por ali passava. Estes retribuíam o cumprimento, mas apenas por fazer parte da boa educação. Se perguntassem a qualquer um deles quem aquele homem era, diriam que era o velhote por quem passavam todas as manhãs a caminho do trabalho, ou aquele velhote que vivia ao lado deles.
            Mas houve uma altura em que o velhote já não esperava nem cumprimentava ninguém. Houve quem estranhasse, mas foi algo que lhes desapareceu rapidamente da cabeça tal como um dente-de-leão que é assolado por uma suave brisa. O velhote estava bastante doente. Estava na cama do seu quarto, sozinho, pois não tinha família. Os pais tinham morrido há muito, o seu único irmão, pensava-se, tinha morrido numa guerra qualquer, e quanto a esposa, nunca teve grandes namoros que o levassem a considerar essa hipótese, e como tal, os filhos eram inexistentes. Tinha apenas as pessoas que passavam pela sua casa, se é que se pode dizer que isso é ter alguém.
            Ao olhar pelo radiante Sol que entrava pela sua janela, soltou um triste suspiro acompanhado por uma delicada lágrima, pois a companhia da solidão era algo que não conseguiu evitar. Assim que estas palavras se formaram na sua cabeça, a porta do seu quarto abriu-se. Ele olhou para ela, um tanto ou quanto surpreso, e quando pensou, numa tentativa de se acalmar, que tinha sido o vento, ela entrou no quarto, coberta de luto e apoiando-se na sua foice para andar. Avançou, e sentou-se ao lado dele, olhando-o. Ele olhou-a de volta. Ela estendeu-lhe a mão esquelética, e ele tomou-a.
            Por vezes, aqueles que merecem mais atenção são os que não têm o luxo de a ter.








Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

terça-feira, 27 de agosto de 2013

             Era um dia como outro qualquer. O Sol punha-se para dar um quase fim a mais um dia, enquanto ela saía do escritório em que trabalhava e trocava algumas mensagens com o namorado.
            Após alguns longos minutos naquele horrível trânsito, típico de um conjunto de pessoas que está ansiosa para chegar ao conforto dos seus lares. Felizmente, nada a impediu de chegar ao seu. Estacionou o carro no passeio, chegou à entrada do prédio onde vivia e abriu a sua caixa do correio. Contas e mais contas, alguma publicidade (o costume), mas havia algo mais, um envelope amarelo-torrado com algo bastante resistente no seu interior. Não reconheceu quem lhe enviara, e envolta na curiosidade, subiu até ao seu terceiro andar.
            Abriu a porta, deixou as chaves em cima de uma taça de porcelana que tinha em cima de uma pequena mesa à entrada, e ao lado dela deixou tudo o que tinha tirado da caixa do correio, tudo menos aquele envelope. Avançou até ao seu longo sofá de cabedal preto (cabiam perfeitamente três pessoas), sentou-se nele, e abriu o envelope. Tirou de lá uma pequena folha de papel e uma cassete de vídeo. Desdobrou a folha e leu “Este era o último desejo dele. As minhas condolências”. A curiosidade tinha-lhe sido substituída pelo terror, e tudo o que bastou foram aquelas palavras. Felizmente, ou não, algo nela insistira para que guardasse o leitor de cassetes que repousava ao lado do seu modesto ecrã plasma. Contornou a pequena mesinha de madeira de carvalho que tinha à sua frente, ideal para suportar as pernas depois de um longo dia de trabalho, debruçou-se sobre o leitor, colocou nele a cassete, pegou nos comandos e voltou a sentar-se. Ligou a televisão e carregou no “play”.
            A princípio, apenas se via uma mancha branca, indistinta e tremida, mas a imagem começou a ficar mais focada e estável, até que se viu nitidamente uma modesta cadeira de plástico, envolta por umas paredes brancas. Nela sentou-se um jovem bastante pálido e de longos cabelos pretos despenteados. Olhou para a câmara com os seus olhos marcados por fundas olheiras e esboçou um inocente sorriso:
            - Olá – disse, numa voz bastante tremida – há quanto tempo? Hã? Sei que não temos trocado muitas notícias desde a última vez que estivemos juntos, e espero que esteja tudo bem contigo.
            Parou de olhar para a câmara e centrou-se no chão, e assim ficou durante alguns segundos, como se estivesse a pensar em cada palavra.
            - O que me leva a fazer este vídeo, é que… eu não aguento mais – voltou a olhar para a câmara, com um olhar totalmente diferente, já com lágrimas a formarem-se nos seus olhos – eu sei que devia continuar e tu encorajaste-me a isso, mas eu não consigo… não consigo mesmo.
            Nova pausa, e as lágrimas já caíam no chão.
            - Já passou tanto tempo… e eu não consigo habituar-me à ideia… a dor e o vazio que sinto desde o momento em que acordo e até ao momento que me deito… estão cada vez mais insuportáveis… e os pensamentos… que devia fazer-te passar pelo que estou a passar – cada palavra era interrompida por um forte soluçar – eu não quero fazê-lo… tu não mereces.
            Nova pausa, e neste momento, ela levava as mãos ao rosto, numa demonstração da mais profunda pena, querendo apenas estar ali para o confortar com algumas palavras, algo que já fizera. E ao olhar para ele reparava que estava diferente, mais magro e mais pálido, quase cadavérico.
            - Já magoei tanta gente numa tentativa parva de me fazer sentir melhor… mas não posso mais… eles também não tinham culpa… eu é que tenho! – exclamou apontando para ele com os dois indicadores – já chega… não encontro solução em lado nenhum… e não quero correr o risco de te fazer a ti ou a quer outra pessoa próxima a ti o que fiz aos outros… nunca me perdoaria – nesse instante, retirou uma pistola de trás das costas, ao que ela arregalou os olhos em pânico, e tentou reconfortar-se com a ideia de que era apenas mais uma das suas piadas – desculpa – disse, apontando a pistola à sua têmpora direita – amo-te – e dito isto, premiu o gatilho, que desencadeou um valente estrondo, que a fazer saltar de susto, e chorar ao ver aquele corpo inanimado, ainda a dirigir um olhar para a câmara, um olhar vazio, até que caiu da cadeira, junto dos restos de sangue que tinham sido projectados contra a parede da direita.
            O corpo foi encontrado horas depois pelo senhorio do jovem, que, após o caso suscitar a atenção da imprensa disse, em lágrimas, que era um rapaz que não fazia nada a ninguém e era amável para todos, sempre disposto a ajudar quando lhe pediam, tendo, talvez, como único defeito, passar muito tempo sozinho. Apesar disto tudo, havia quem jurasse a pés juntos que tinham visto aquele mesmo rapaz em desacatos em bares em discotecas, saindo ele deles com alguns arranhões, e os outros em estados bastante graves para as urgências. A isto o senhorio dizia que não passavam de história que inventaram para denegrir a imagem do rapaz e para justificar o que fizera, mas ele não sabia que era tudo verdade.
            Ela chorou como nunca tinha chorado o resto do dia ali, no sofá, sem coragem para olhar para o ecrã onde se via apenas um quarto abandonado e salpicado com sangue. Perguntou-se mil e uma vezes porque é que ele tinha feito tal coisa. Porquê?! Porque é que ele não aguentou?! Porque é que ele não seguiu em frente?! PORQUÊ?!!
            A questão é que não somos todos iguais, e, para alguns, quando estão no fim das suas forças e a cair desamparados em direcção ao nada, a morte consegue ser bastante tentadora, e aparenta ser a única solução.




Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

             Grossas lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto a segurava nos seus braços. Apesar de ter consciência da realidade, parte dele acreditava que os seus pulmões iam voltar a encher-se de ar e ia voltar a ver aqueles belos olhos castanhos a olharem para ele, mas já era tarde, e tal só voltaria a acontecer nos sonhos que passaria a ter.

            Teve sorte por não ter morrido também naquele incêndio. As imagens não paravam de passar à frente dos seus olhos. Limitou-se a chegar a casa após mais um longo dia de trabalho, mas em vez de ser recebido pelo sorriso dela, foi recebido pela dantesca imagem da sua casa em chamas. Estava em choque, mas um pensamento fê-lo avançar, mesmo após os bombeiros lhe dizerem que era demasiado perigoso, “será que ela está lá dentro?”. Irrompeu pelas chamas após empurrar uma série de bombeiros, alguns dos quais saiam da casa sem nada lhe dizerem. Entrou em todas as divisões do primeiro andar, cozinha, sala e vários corredores. Não encontrou nada e as chamas estavam a tornar a procura cada vez mais difícil, dado o calor insuportável que criavam. Mas ele não podia parar, tinha que ver se ela estava bem, e se não estivesse, tinha que fazer os impossíveis para se certificar que ela ficava bem. Subiu até ao segundo andar, através das escadas de madeira prestes a desabar, e assim que chegou ao seu topo, lá estava ela, estendida no chão e coberta por uma intensa nuvem de fumo negro. Ele não pensou duas vezes, correu na sua direcção, a tossir como nunca antes tossira. Ajoelhou-se ao lado dela e tentou acordá-la. Não obteve qualquer resposta. Talvez os bombeiros pudessem ajudar. Assim que este pensamento surgiu na sua cabeça, levantou-a e seguiu em direcção à saída. Estava com mais dificuldade em ver o caminho, mas não havia tempo a perder. Encontrou as escadas, e desceu-as com cuidado, e assim que as abandonou, elas desabaram. Continuou até à saída. Debaixo do luar, deu largos passos pela relva, já sem força nas pernas e ajoelhou-se enquanto um grupo de bombeiros corria em seu auxílio, e um outro grupo de pessoas o aplaudiam. Mas não havia motivo para celebrações. Não havia nada a fazer. Ela estava morta.

*

            Longos meses passaram desde aquele terrível incêndio, mas descobrir quem teve aquela macabra ideia era algo que ele queria desvendar a todo o custo. Já tinha perdido as contas ao número de vezes que lhe tinham dito para esquecer tudo e seguir em frente, mas ele considerava aquilo tudo uma atrocidade à memória dela.

            Após inúmeras noites sem dormir, pedir ajuda às piores das companhias e um ou outro favor à polícia, conseguiu encontrar o culpado, um doente obcecado por incêndios que não fazia a mínima ideia que alguém estava naquela casa.

            As imagens do incêndio vinham-lhe à mente enquanto o espancava depois de o retirar da porta da entrada do barraco onde vivia e que arrombou em cima dele. Puro ódio alimentava os seus socos que embatiam fortemente no rosto daquele “pobre coitado” que estava agora estava mais morto que vivo dada a gravidade dos ferimentos e o sangue que perdera, mas não acabou assim. Ele arrastou-o pelo chão, sentou-o num banco e amarrou-o a ele, acabando por despejar sobre ele pouco mais de 5 litros de gasolina. Recuou, e acendeu o seu isqueiro enquanto observava aquele homem já inconsciente. Bastava-lhe largar o isqueiro para se vingar por aquilo que ele tinha feito, mas não conseguiu, algo o impediu. Olhou para a sua direita, e viu-a a ela, a segurar a sua mão. O olhar dela e o sorriso dela, aquele belo olhar e aquele belo sorriso, diziam-lhe claramente que aquilo não era a coisa acertada a fazer. No meio de lágrimas, ele disse que não era justo, e rapidamente foi abraçado por ela, que o encorajou a seguir em frente com a sua vida, e que mais cedo ou mais tarde, estariam novamente juntos. Após muito hesitar, arrumou o isqueiro e abandonou o barraco. Entrou no seu carro e foi para onde lhe pareceu melhor ir.

            Parou na praia onde adorava passar o seu tempo com ela, mas agora estava só. Sentou-se na areia, com o mar, que reluzia o luar, quase a tocar-lhe nos pés. Tinha que arranjar maneira de continuar, mas não sabia como.



















Ass: Daniel Teixeira de Carvalho