Quem diria que eu ia
acabar por morrer tão cedo? Quero dizer, não estava mesmo a contar. Estava eu,
sossegado, a dar um passeiozito quando de repente oiço um leve assobio e sinto
logo de seguida algo a passar-me de um lado ao outro. Deitei logo às mãos à
barriga e quase caí ao chão por causa da dor. Logo aí, mais uma surpresa. Tendo
em conta a quantidade de sangue e aquele novo buraco, não era preciso muito
para chegar à conclusão que tinha acabado de ser baliado. Comecei a olhar para
os lados. Estava desnorteado e não sabia muito bem a quantas estava. Assim que
olhei em frente, vi uma figura de negro a aproximar-se de mim e a enfiar-me uma
bota de biqueira-de-aço mesmo no sítio onde me tinha acertado, atirando-me para
trás um ou dois metros. A juntar a isto, assim que eu estava estendido no chão,
foi generoso ao ponto de quase esvaziar um carregador. Isto é o que eu chamo “estar
a ter um mau dia”, e como um mal nunca vem só, assim que me levantei, praticamente
sem forças em lado nenhum para sequer dar dois passos sem voltar outra vez ao
chão, ouvi-o a pegar num dos canos de chumbo espalhados por aquela garagem. O
que aconteceu a seguir? Bem, num momento estava a tentar ganhar alguma
distância, num outro estava a rodopiar no ar, e, quando dei por mim, estava
outra vez estendido no chão e com a minha perna direita feita num oito. Como se
não bastasse, ergueu o cano e com toda a força que tinha (que não é pouca, devo
dizer) teve a gentileza de me partir as duas pernas. Tendo em conta a forma que
digo isto, parece que não passa tudo de uma comédia negra, mas não, rir não era
uma opção, e tendo em conta os meus gritos, bem, fiquei admirado por não ter
aparecido ninguém para ver o que é que se estava a passar.
Uma coisa é certa, correr ou até mesmo andar estavam agora
fora da equação. O que é que me restava fazer? Rastejar, até que me apercebi
que não valia a pena. Assim que olhei para trás e o vi, de cara tapada por um
cachecol, uns óculos escuros e um capuz, apercebi-me que não tinha escapatória possível.
Limitei-me a fazer o que me pareceu ser melhor: ficar onde estava e esperar que
acabasse tudo o mais depressa possível. Virei-me de barriga para cima, e
cuspindo sangue por todos os lados, pedi-lhe para acabar comigo de vez. Sem
dizer uma palavra, apontou a sua pistola à minha cabeça e premiu o gatilho.
Pelo menos morri às mãos de uma das minhas personagens.
Uma morte um tanto ou quanto adequada, acho eu. E se assim não fosse, creio que
ia ficar bastante desiludido.
Ass: Daniel Teixeira de Carvalho