A noite estava calma, tal
como o ambiente do bar. Para além de alguns bêbados inanimados em cima de
algumas mesas ou do balcão, restavam apenas o barman, três cavalheiros a jogar poker e o seu dealer. Várias já tinham sido as mãos trocadas entre eles, tal como
os avultados montes de dinheiro, que agora já tinham visto o mesmo dono mais
que uma vez.
O barman
limpava o balcão com desinteresse absoluto ao que se passava, focando-se apenas
na monotonia da sua tarefa, não tendo quaisquer problemas em desfazer-se de
quaisquer pesos embriagados que o obstruíam. Pesado era o som do embate assim
que caíam no chão, mas, ainda assim, incapaz de os acordar, soltando apenas um
sonoro ronco.
O tempo passava, tal como a monotonia, apenas quebrada
pelas ocasionais pancadas na mesa, as habituais deixas que o jogo de poker
exige, embriagados ressonares e o som de um pano húmido a ser passado por um
balcão de madeira gasta e copos de vidro sem remedeio algum.
As horas passavam, contadas pelos cigarros que o dealer fumava. Ele fixava as cartas e os
jogadores com um olhar vazio, baralhando e dando as cartas de forma tão natural
e mecânica como se de respirar se tratasse.
O tempo passava e o dinheiro acumulava-se na mesa, o que significava
que se esvaziava no bolso. Quando começou a ficar escaço, o desespero começou a
tomar lugar e os ânimos exaltaram-se. Um gesto de batota que se ficou por saber
se realmente aconteceu ou não fez com que todos se levantassem e, ora por sorte
ou por azar, tomaram os seus revólveres em simultâneo e premiram os gatilhos.
Os três caíram mortos.
O estrondoso espalhafato chamou a atenção do barman e de alguns dos restantes
clientes que, ora retomavam o seu estado quase comatoso, ou tentavam sair do
bar tal como podiam. O dealer
contemplou a cena com o seu olhar vazio, e apagando o seu cigarro na mesa,
levantou-se. Tomou a pá imunda que tinha deixado encostada atrás de si, e tomou
um dos corpos.
- Trabalhar a esta hora? – perguntou o barman.
- É melhor enquanto os corpos estiverem frescos.
- Não questiono.
Assim que o dealer
se viu diante da porta, ouviu novamente:
- Pode-se quebrar este ciclo?
O dealer parou,
pousou a pá ao seu lado e respondeu:
- Há dois tipos de pessoas, as com armas, e as que cavam.
As que têm armas só se apercebem do que têm nas mãos quando já é tarde demais.
Resta aos que cavam deixar uma mensagem para os que cá ficam. Pode ser
quebrado? Não me parece. Haverá sempre alguém com uma arma e alguém para o
enterrar… Dá-lhe uma olhadela neles. Eu já volto.
E saindo do bar, deixou-se levar pelo abraço da escuridão.