Muito se pode dizer
quanto ao que faz de nós realmente humanos. Debativelmente, a opção mais fácil
é a capacidade de sentir, não numa perspectiva fisiológica, como sentir frio ou
calor, mas sim ao nível das emoções. Procurando desenvolver, e assumindo isto
como verdadeiro, a capacidade de sentir confere-nos humanidade, mas a que
custo?
A nossa própria existência encontra-se marcada por
episódios onde essa capacidade de sentir mostrou ser algo verdadeiramente
atroz. Acontece todos os dias, bastando para isso que alguém faça mal a outra
pessoa (seja de que forma for) porque isso lhe vai permitir sentir-se bem ou
até mesmo realizado.
Ao removermos o filtro que as emoções realmente são,
apercebemo-nos de que elas são, não um atenuante, mas sim um bloqueador. No
caso concreto (variando, obviamente) surgem apenas como uma distracção, algo
que surge, desviando o interesse e o foco do problema ou questão que se
encontra em vias de ser resolvido. Um bom exemplo disto pode ser ilustrado na
forma de um problema ético/moral: encontras-te no centro de dois edifícios, e
ambos estão armadilhados com explosivos. No da tua esquerda está a pessoa que
mais amas à face da Terra, e no da direita tens uma equipa de médicos. Quem
decides salvar?
Há duas interpretações distintas deste mesmo problema, e,
obviamente, aquela que se encontra directamente relacionada com a questão das
emoções consiste no salvamento da pessoa que se ama, priorizando-se, assim, as
vontades e desejos próprios em vez do bem comum/em longo prazo. A outra face da
moeda implica uma interpretação, quiçá mais moral, ou simplesmente mais
objectiva. Enquanto que salvar a pessoa que se ama seria benéfico essencialmente
para nós, salvar os médicos resultaria num bem maior onde outros para além de
nós seriam incluídos.
Serão as emoções realmente importantes? Tal como este
mesmo tópico, é debatível. E o mesmo pode dizer-se do pensamento objectivo? Se
calhar não. A partir do momento em que ignoramos este filtro e encaramos as demais
situações conforme elas são, é-nos possível arranjar uma solução em nada
egoísta. É claro que para tal é necessário que a própria personalidade esteja
construída nesse sentido, mas, de qualquer das formas, conseguir dar este
grande passo já é bastante positivo.
Poucos são os que conseguem fazer isto, observar e não
ver a natureza de tudo. Perceber como tudo funciona, quem afecta e como.
Perante isto, é apenas uma maior pena ver que mesmo esses poucos caem na
tentação de agir por benefício próprio, porque, verdade seja dita, tal faz
parte da nossa natureza. Sempre fez, e sempre fará.
Irónico que aquilo que nos dá a nossa humanidade é o
mesmo que a tira.
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