quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Objectivamente objectivo

         Muito se pode dizer quanto ao que faz de nós realmente humanos. Debativelmente, a opção mais fácil é a capacidade de sentir, não numa perspectiva fisiológica, como sentir frio ou calor, mas sim ao nível das emoções. Procurando desenvolver, e assumindo isto como verdadeiro, a capacidade de sentir confere-nos humanidade, mas a que custo?

            A nossa própria existência encontra-se marcada por episódios onde essa capacidade de sentir mostrou ser algo verdadeiramente atroz. Acontece todos os dias, bastando para isso que alguém faça mal a outra pessoa (seja de que forma for) porque isso lhe vai permitir sentir-se bem ou até mesmo realizado.

            Ao removermos o filtro que as emoções realmente são, apercebemo-nos de que elas são, não um atenuante, mas sim um bloqueador. No caso concreto (variando, obviamente) surgem apenas como uma distracção, algo que surge, desviando o interesse e o foco do problema ou questão que se encontra em vias de ser resolvido. Um bom exemplo disto pode ser ilustrado na forma de um problema ético/moral: encontras-te no centro de dois edifícios, e ambos estão armadilhados com explosivos. No da tua esquerda está a pessoa que mais amas à face da Terra, e no da direita tens uma equipa de médicos. Quem decides salvar?

            Há duas interpretações distintas deste mesmo problema, e, obviamente, aquela que se encontra directamente relacionada com a questão das emoções consiste no salvamento da pessoa que se ama, priorizando-se, assim, as vontades e desejos próprios em vez do bem comum/em longo prazo. A outra face da moeda implica uma interpretação, quiçá mais moral, ou simplesmente mais objectiva. Enquanto que salvar a pessoa que se ama seria benéfico essencialmente para nós, salvar os médicos resultaria num bem maior onde outros para além de nós seriam incluídos.

            Serão as emoções realmente importantes? Tal como este mesmo tópico, é debatível. E o mesmo pode dizer-se do pensamento objectivo? Se calhar não. A partir do momento em que ignoramos este filtro e encaramos as demais situações conforme elas são, é-nos possível arranjar uma solução em nada egoísta. É claro que para tal é necessário que a própria personalidade esteja construída nesse sentido, mas, de qualquer das formas, conseguir dar este grande passo já é bastante positivo.

            Poucos são os que conseguem fazer isto, observar e não ver a natureza de tudo. Perceber como tudo funciona, quem afecta e como. Perante isto, é apenas uma maior pena ver que mesmo esses poucos caem na tentação de agir por benefício próprio, porque, verdade seja dita, tal faz parte da nossa natureza. Sempre fez, e sempre fará.

            Irónico que aquilo que nos dá a nossa humanidade é o mesmo que a tira.

Sem comentários:

Enviar um comentário