domingo, 25 de junho de 2017

Sonhar alto

            Ela era aventureira e ambiciosa, ao ponto mesmo de querer ir sempre mais além. Muitos eram os capítulos já bem presentes na sua vida, mas está claro que ela queria mais. Mais uma viagem. Mais uma para mais um capítulo. E assim foi.

            O destino foi uma ilha algures no Pacífico do qual muito pouco se sabia para além das suas belas praias, e isso bastou para a convencer. A viagem correu de feição, e o sítio em questão não desiludiu. Para todos os efeitos, estava no derradeiro paraíso.

            Tinha tudo o que precisava, desde estadia a plano de actividades, pelo que o avião regressaria no fim da semana. Algo que efectivamente fez e, para grande surpresa de todos, ela não estava em lado algum. Começaram prontamente a procurá-la, pensando que ela se tinha esquecido ou simplesmente optado por não regressar. Nada os faria esperar aquilo.

            Nas primeiras horas fizeram a maior e pior das descobertas. A ilha afinal estava habitada, e os habitantes eram mais que hostis. Poucos foram os que conseguiram escapar com vida, e até hoje, os que o fizeram recusam-se a contar o que viram.

            Cuidado com aquilo que desejas.

Medo

           Medo. O que é o medo? O que é o medo para além de uma resposta interna face a algo externo ou mais interno ainda? Muitos defendem que é graças ao medo que somos o que somos e que estamos onde estamos, e, para ser sincero, não estão absolutamente errados.

            Ao temer algo estamos a reconhecer que esse algo pode ser bastante danoso para nós ou para terceiros. Face a isto, uma de duas coisas acontecem: ou se vive com medo ou se reúnem as condições necessárias para o superar. Assim foi desde sempre, assim é, e possivelmente assim sempre será.

            O medo, por si só, não é mais que um obstáculo, obstáculo esse que, por definição, foi feito para ser quebrado, bastando apenas que a pessoa em questão o queira. Principais entraves? O comodismo e o próprio medo em si. Conformismo no sentido de se acreditar que o risco de deixar o estilo de vida que se vive num determinado momento para enfrentar o próprio medo não vale a pena.

            Podemos tornar as coisas mais interessantes e dizer que não há problema nenhum em ter medo, uma vez que é algo absolutamente natural, o que, por sua vez, é absolutamente correcto. Ter medo é um bom sinal. É sinal de que não se é estúpido o suficiente para desvalorizar a potencial ameaça que daí possa advir. Contudo, enquanto que ter medo não é um problema, viver com medo é uma catástrofe enorme. A partir do momento em que nos conformamos com a sua presença e com a realidade de que daí advém, tudo muda, e aquilo que era uma vida com brilhante potencial, torna-se numa mera sombra do que apenas poderia ser.

            Mas deixemo-nos de conversa fiada, pois não é por isso que aqui vieste. Senta-te e diz-me, do que tens medo? O que é que te mantém acordado durante a noite? É a mulher? O marido? Os filhos? Aquele ou aquela nova colega e aquilo que essa pessoa te faz sentir? O não conseguir pagar as contas ao fim do mês? O não conseguir ser alguma coisa na vida? Ah, antes de responderes, deixa-me já fazer a pergunta que realmente interessa e que é muito mais importante que todas estas: estás disposto a enfrentar esse medo, ou já permitiste que ele se tornasse parte de ti?  

domingo, 18 de junho de 2017

Sentir?

              O que são sentimentos e emoções para além de respostas internas a estímulos externos cuja hostilidade varia consoante a sua origem? Claro está que para além disto são um grande inconveniente, pois são o maior entrave no que toca ao momento decisivo de tomar uma decisão de níveis vários de importância.

            Múltiplos são os exemplos que assolam a nossa história de casos concretos onde grandes catástrofes teriam sido evitadas se sentimentos e emoções não tivessem sido incluídos na equação.

            Podemos indubitavelmente referir a questão do agir em prol deles, da mesma maneira que se age para responder e satisfazer uma qualquer dependência. Agir somente porque nos faz sentir bem de alguma forma, consolidando a ideia que não existe alma alguma inteiramente bem-intencionada.

            Sintam então desta mundana forma! Enquanto isso, outros tantos sentirão objectivamente, encarando todas as faces de um qualquer problema, agindo então somente em prol da sua melhor resolução, independentemente do que possam sentir ou não.

               Oxalá todos fossem assim. 

sábado, 17 de junho de 2017

Diz-me o que vês

        - Estás bem? Consegues ouvir-me? Oh, meu Deus, ias-me dando um ataque cardíaco! Ouve, não há tempo para explicar. Temos electricidade novamente e confirmámos as ligações todas três vezes. Estás ligado ao sistema e preciso que repitas todo o processo. Estás a perceber o que eu estou a dizer?
            - Os padrões das ondas cerebrais dizem que sim.
           - Óptimo! Muito bem então, tudo o que precisas de fazer é de te concentrares. Não penses em nada. Limpa a tua mente de toda e qualquer ideia, seja ela qual for. Temos que ter silêncio absoluto.
            - Algo difícil de conseguir contigo a falar.
           - Depois de eu acabar, como é óbvio!... pois bem, voltando ao que eu estava a dizer, abstrai-te de tudo e mais alguma coisa. Imagina-te numa bolha cheia de nada e deixa-te estar no seu interior. Percebido?... como é que eu sei que ele percebeu?
            - Experimentando e vendo o que sai daqui.
            - Obviamente que me referia a algo que não isso… mas ok. Está tudo pronto?
            - Tudo pronto.
            - Comecemos em 5, 4, 3, 2, 1 e…
            - Os pulsos electromagnéticos começaram a ser aplicados.
            - E os sinais vitais?
            - Tudo normal.
            - Óptimo, óptimo.
            - Aumentar a carga para 25%.
            - Alguma alteração.
            - Ainda nada.
            - Mais!
            - 50%.
            - E então?
            - Ainda nada.
            - Mais! Precisamos de mais!
            - Mas…
            - MAIS!
            - 75%.
          - Bolas, a electricidade outra vez… rápido, dá-lhe a voltagem máxima antes que fiquemos às escuras!
            - De certeza?
            - Absoluta!
            - 100%.
            - Bolas! Fritámos os computadores outra vez!
            - Fontes de reserva online.
            - Deixa-me só sacudir este fumo… como é que está tudo?
            - Os sinais vitais estão estáveis… e parece que…
            - Parece promissor!... Consegues ouvir-me? Consegues dizer alguma coisa? O que vês?

            - … tudo.