Todos temos os nossos
segredos. Alguns vivem deles, ora colecionando-os, ora expondo-os. O meu maior
segredo foi ambicionar saber tudo sobre tudo. Apesar das limitações que o meu
cérebro impõe sobre mim, uma vez que a sua capacidade de conter informação é
biologicamente limitada, nunca encarei este objectivo como inatingível.
Para alguns isto pode não parecer um segredo, mas sim um
simples sonho ambicioso como tantos outros. A questão é que nem todas as formas
de conhecimento são transmitidas abertamente. Algumas, as mais interessantes,
estão escondidas de tudo e de todos, e nalguns casos, são tidas como há muito
esquecidas.
Durante os meus anos de estudo, dei por mim a nutrir uma
dependência por esta secreta ambição. Tinha que saber mais e mais, custasse o
que tivesse que custar. Vasculhei bibliotecas fora de horas, subornei para
aceder a registos privados, troquei favores por documentos… tudo para ter a
minha sede saciada.
O problema deste tipo de dependências é que tendem a
agravar-se, pelo que História, Psicologia, Medicina, Matemática e as demais
ciências, rapidamente deixaram de ter muito para oferecer. Perante a
necessidade de algo mais, recorri às artes obscuras. O Oculto, e tudo aquilo
que ele implica, tomou toda a minha atenção. Estudei Alquimia e tratei de
procurar sintetizar as minhas próprias soluções, os meus próprios elementos.
Estudei Tarologia, Cartomancia e toda uma outra série de formas de adivinhar o
futuro, meu e dos outros. Mas nada foi capaz de chegar aos calcanhares de
quando aprendi a entrar em contacto com outras entidades que habitam neste
mesmo plano. Há muito que se pode aprender com quem esteve presente desde o
momento da criação… principalmente se se chegar a um acordo.
Um outro problema das dependências, das obsessões doentias,
é que se não tivermos cuidado, elas acabarão por nos consumir. Apesar de tudo o
que aprendi, apesar de tudo o que eu já devia saber e tomar como certo, não
consegui resistir à tentação de assinar um contrato com alguém que prontamente
mo apresentou em troca de todos os segredos que permitem a nossa existência. A
essência, o auge daquilo que é o verdadeiro saber… como é que eu poderia
recusar? O meu nome reluziu com um brilho vermelho escarlate assim que assinei
aquela folha, e prontamente me vi a cumprir o meu maior desejo.
Mas agora escrevo nestas páginas com uma outra entoação.
Há coisas que é melhor não sabermos. Há portas que é melhor não abrir. Neste
caso, não foi o que fiz, mas com quem. O contrato pedia muito mais do que eu
poderia alguma vez imaginar, algo que fiquei a saber assim que o assinei.
Escrevo nestas páginas consciente de que é a última coisa
que alguma vez farei.