sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um animal enjaulado


O que é isso de liberdade?
O que é ao certo?
Todos procuram a sua igualdade
E tê-la sempre por perto.

Mas será ela realmente possível?
Será possível ir para além da física,
Ir para além do incrível,
E ignorar a nossa própria química?

Foi possível descobrir mundos.
Mas a Terra ficou pequena.
Procuraram-se então outros mais ou menos moribundos,
Mas ainda hoje não se mudou de cena.

Com o tempo será possível viver neles,
Mas não será possível fugir de nós.
A vida de um pode ser reles,
E mesmo uma boa imaginação vai deixá-lo a sós.

Pode-se sonhar com mundos que não existem,
Falar com pessoas imaginárias,
E quiçá, crianças com elas se criem,
Mas jamais mudarão as realidades solitárias.

A imaginação desaparece,
E a solidão retorna,
Tal como uma prece
Indesejada que todos transtorna.

Aquilo que o cansaço faz a uma pessoa.
Tudo parece mais nítido,
E igualmente dito à toa,
Podendo ao mesmo tempo ter ou não sentido.

Mas cada um tem a sua cela,
Nuns o ego, a ganância, ou a aparência,
E noutros os outros, ou uma demência maior que ela,
Mas todos se enjaulam com uma certa frequência.


Talvez seja o escritor quem mais o faça.
Desabafar com as folhas
Porque não arranja quem faça
Esquecer as más escolhas.

É estranho e ao mesmo tempo singular
Pensar nas nossas personagens como mais humanas
Que os humanos com que temos que partilhar
As nossas memórias quotidianas.

Pode achar-se o método do escritor
Algo estúpido ou até mesmo inútil.
Mas ele escreve sem pudor,
E, sempre que pode, a insultar a vida fútil.

Talvez seja este o método certo,
Enjaular-se com palavras que nos compreendem,
Em vez dos que temos por perto,
E que pela diversão mentem.

Já se sabe qual é a jaula do escritor,
Um escravo da sua personagem pura,
Mas quanto ao leitor,
Qual é a sua?







Ass: Daniel Teixeira de Carvalho