domingo, 16 de dezembro de 2012

Misericórdia


Sentado à frente de uma qualquer secretária,
Rodeado por palavras de significado ausente,
Procedo a mais uma reflexão,
A mais um desperdício de tempo para a mente.

Navegando nas memórias bem cravadas,
Surge a saudade de tempos de futuro incerto.
As imagens iluminam a escuridão que banha a secretária,
Mas sei que a visita é temporária.

Insistindo, elas aparecem de dia e de noite,
Assumindo a forma dos já idos,
Ou simplesmente dos que estão longe,
E aparecem porque simplesmente se pode.

Sanidade é algo vago,
E neste caso inexistente,
Pois a dor de gosto amargo
Mostra-se sempre exigente.

De que adianta aprender a gostar
Se tal apenas leva ao piorar?
De que adianta avançar
Se persiste o recuar?

Poderia continuar a divagar,
Afogando-me num oceano de palavras,
Mas o ritmo da vida
Simplesmente não tolera dramas.

Por muito esperei
E seria de esperar algo melhor,
Mas a solidão é lei
E a loucura a sua dor.

Concluindo este pensamento abstracto,
Resta-me agradecer
À solidão e à loucura
Por lá terem sempre estado.

Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Enfim


Sempre presente
Sempre atento
Assim fui eu
Sem qualquer desalento.

Sempre a ajudar
Sem alguma vez pensar em parar
Porque auxiliar
Sempre foi o meu intento.

Ouvindo notícias boas e más
Esperando que a vida não volte atrás
Pensava eu,
Inocente como os demais.

Umas vezes culpado
Talvez até em excesso
Mas ao descobrir que tal foi engano
Vontade surgiu para reparar esse dano.

Puro ódio negro,
Reluzente raiva ardente
E tímida esperança reluzente
Juntaram-se para assombrar a minha mente.

Não há espaço para gratidão
Quando a obscura imensidão
Congelou qualquer necessidade de emoção,
Criando uma provável aberração.

Dor, minha amiga,
Sempre fiel e presente,
Professora da vida
E mais sábia que a mortal gente.

Aprendendo diariamente
Fragmentando uma já perturbada mente
Para evitar uma saúde demente
Assim se viveu e, quiçá, se continuará para todo o sempre.

Nunca um mártir
Nem esperando atenção.
Apenas mais um
Tentando dar exemplos à multidão.

Quando a vida se volta contra ti
Quando tu fazes por isso,
Há uma lição a tirar
Que não um continuado improviso.

Continua assim
Caminhando para o precipício.
A vida é curta,
E talvez seja tarde quando te aperceberes disso.

Sentem dor e queixam-se.
Não conseguem compreender
Que ela faz parte do viver
E que só quer ajudar o próprio ser.

Tentei e falhei
Quando tentei ensinar
Que a frieza e a preocupação decente
Seria algo a tomar.

Tal não me preocupou
Por haver sempre algo mais importante.
O mundo mudou
E custa-me dizer que se tornou mais ignorante.

Contudo,
Continuo na mesma.
Não adianta sentir pesar
Por algo que não se quer preocupar.

Em dor me encontro e os vejo,
Preocupando-se com o mais puro nada
E vivendo vidas de puro desleixo
Como se tal fosse o propósito da vida.

Olho para ela e sorrio.
Afinal de contas, eles são como eu,
Apenas não sabem usar a dor
Na vida que se lhes deu.

Ass: Daniel Teixeira de Carvalho


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Entre mundos


Desde os nossos primórdios
Tem existido um confronto
Entre dois mundos mais que históricos,
Sendo um deles mais que hediondo.

Para além do mundo infernal
E do seu oposto,
Existe o mundo pessoal,
Mundo esse que talvez mereça um melhor gosto.

Contudo, tal mundo não se encontra só,
Ele próprio fragmenta-se
Sem piedade nem dó,
Porque quem nele vive afugentar deixa-se.

Todos acabam por entrar no virtual,
E todos pretendem deixar a sua marca,
Seja ela natural
Ou proveniente de uma alterada arca.

Dou por mim rodeado por imensas colinas digitais.
Vejo imagens e oiço-as também,
E sigo pelos vales
Desta nova terra de ninguém.

Avanço à procura,
Visto nada mais me importar,
E quando a encontro na noite escura
Recosto-me para observar.

A minha ajuda está sempre disponível
Para aqueles que a pedem,
E mesmo que pareça invisível,
Certifico-me que eles se contentem.

Não sei durante quanto tempo é que observo.
Sei apenas que o sítio onde me sento
Se encontra num mortiço virtual nervo
E que parece esquecido pelo tempo.

Por vezes tudo o que temos desaparece,
E a surpresa deixa-nos estáticos.
A vida enegrece,
E a falta de ar deixa-nos mais que asmáticos.

Levanto-me no preciso momento
Em que o meu assento
Aceita o seu tormento
E morre por ter acabado o seu tempo.

Ao contemplar o pó,
Volto o olhar para onde olhava,
Para ver um só
Nada que me atormentava.

Olho à minha volta.
Mais colinas se transformam em pó,
E desapareço antes que esta queda esbelta
Me deixe mais que só.

A este mundo voltarei,
Tal como os outros que acabarei por vir a conhecer.
Contudo, só de viver acabarei
Quando mais nada houver a fazer.

Caminho entre mundos,
E como outros, deixo a minha pisada
Para que nesses escombros
Ela seja lembrada e acarinhada.














Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ritmo


Ficar quieto num canto,
Num canto de conforto escuro,
E no meio de enorme pranto,
Pranto forte e duro,
É uma perda de tempo e de talento
Quando lá fora na doirada luz
Existe mais que um solitário assento,
Existe uma vida que nos seduz.

Por isso venho à rua,
Sem pressa ou cheio dela,
Por sair ou para matar a amargura
Que se instalára por prazer dela,
E que se mata com prazer,
Com o prazer de viver,
Com o orgulho a estender
E para ela não se desfazer.

Pára-se por momentos,
Para pensar, ou por apenas parar.
Pensar no que foi dito há tempos,
Ou no porquê do caminhar.

Mas depressa se esquece
O porquê de tudo,
Ou pelo menos parece
A este pensamento não mudo.
Não é mudo, não senhor.
Se o fosse não existiria
Esta poesia feita com ardor
E com alguma primazia.

Da prosa à poesia,
Passando pela música
Pelo piano ou pela guitarra pensativa,
Perde-se o Norte mas não a astúcia
Deste artista que sou o que alguma vez serei,
Visto que pensando no que já escrevi
E no que escreverei,
A vida passou por mim, e nem sequer a vi.

À pressa retomo tudo,
E já nem sei mais o que dizer.
Para ver ainda falta o mundo
Neste passeio do meu viver,
E sempre a mudar o ritmo
Da vida a que vim,
Seria de esperar que perdesse o tino
Neste percurso incerto assim,
Mas posso garantir que isto jamais será o derradeiro fim.











Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Nada é verdade; tudo é permitido


Desde o início dos tempos,
O mundo tem-se deparado
Com negros e medonhos ventos,
Mas também com tempos de luminoso prado.

Nem sempre o bem veio do nada,
E chamar-lhe lutar é um insulto.
Foi difícil trepar pela calada da bonança,
E foi sempre preciso ser astuto.

Estes tempos eram vistos por dois olhares:
Um que pretendia o mundo dominar,
E outro que na escuridão mantinha os seus viveres
Para a luz poder auxiliar.

Dois olhares, dois titãs,
Um a lutar para a sua vontade instaurar
E o outro para que haja livres amanhãs,
Livres e sem desnecessário vermelho mar.

Sempre foi assim.
Sempre houve alguém disposto a por nós lutar,
E até para além do fim
Tal espírito vai continuar.

Cabe-nos a nós decidir se queremos ser egoístas,
Ou se nos queremos sacrificar por algo melhor.
Devemos ser mais que empiristas
E decerto que a escolha vai acartar dor.

Contudo, há um lado que supera,
O lado que tudo enfrenta
E sempre pronto a defrontar a besta bera
Que o egoísmo canta.

Reais ou ficcionais,
Tal não se sabe ao certo.
Mas os seus ideais são reais
E ainda hoje os temos por perto.

Devemos aprender a ser livres
E interagir em pleno com o nosso redor.
Nunca deixar que o bem expire,
E tudo enfrentar sem temor.

Não devemos temer saltar ao sabor dos ventos,
Mas sim aprender com eles.
Nunca de responsabilidades ficar isentos,
E sempre dispostos a acabar com o que é reles.

Aprender a agir no meio da multidão,
E agir sempre que a justiça falta.
Não ser um mero peão,
Mas sim a águia que se rege alta.














 Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

terça-feira, 29 de maio de 2012

O outro lado da psicose


Curiosa estrutura a nossa mente.
Algo complexo e igualmente elementar,
E capaz de deixar qualquer um demente
Se dela não cuidar.

Por ser frágil,
Basta uma pequena mudança
Para se perder uma vida fácil
E ganhar uma atribulada dança.

Basta perder alguém,
Conter desilusões e problemas,
E sabe-se lá o que mais vem,
Visto que cada um tem os seus dilemas.

Começa com um leve desconforto,
E culmina com a presença constante,
E quase sempre a dar para o torto,
De um outro que se quer livrar de alguma gente.

Por mais hediondo que possa parecer,
Pode ser interessante assim viver.
Existe um alguém sempre disposto a conviver,
E diferente daqueles que podemos conhecer.

Não há razões para temer.
Este mundo não é nenhuma ternura,
E o facto de nele viver
Faz com que cada um tenha a sua loucura.











Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

sábado, 10 de março de 2012

Que os jogos comecem


Numa destas noites decidi fugir a rotina do dia-a-dia procurando uma qualquer actividade capaz de satisfazer os meus gostos.
Deparei-me com uma peça de teatro e fiquei, de certa forma, animado. Ao menos tratava-se de algo capaz de transmitir um pouco de cultura.
Toda ela homenageava a mulher, não tivesse o dia da mulher surgido há poucos dias, e ao ver as várias imagens de mulheres a serem tratadas como objectos de prazer e como sacos de pancada, ao ver rostos distorcidos por apedrejamento, fogo e ácido, ao olhar aqueles olhos que silenciosamente gritavam de dor, consegui ver as próprias cenas, vi as pedras a serem arremessadas contra o meu rosto, o fogo a ser-me ateado e o ácido a ser-me derramado. Senti a minha dignidade como ser humano a desaparecer enquanto aquela mistura de dor me consumia o que resta do meu corpo.
Contudo, apesar do que senti, os rostos das imagens que eram projectadas foram quem realmente sofreu, enquanto que eu apenas senti uma porção, mas o suficiente para querer mudar as coisas.
De momento encontro-me enclausurado, pelo que só poderei passar os meus planos em prática daqui a alguns anos, mas nada me impede de praticar.
Irei caçar esses bastardos inglórios e fazê-los pagar pelo sofrimento que causaram às mulheres em que tocaram! Irei persegui-los um a um, a começar pelos lacaios e subir pela cadeia alimentar até ter a certeza que mais ninguém irá sofrer!
Se formos a esperar que a lei defenda estas pobres almas, outros milhares perecerão, e mesmo que se chegue a uma decisão, será tarde demais.
A lei foi feita pelo Homem, e é por isso que é imperfeita e difícil de se confiar.
Aqueles que causam este sofrimento atroz não passam de animais, e serão abatidos como tal.
Será apenas uma questão de tempo.

Death Master   

sexta-feira, 2 de março de 2012

Demasiado tempo livre


Estou a ver que ando a gastar demasiado tempo a escrever do que a andar no terreno a limpar as ruas.
Começo também a achar esta actividade deveras interessante, e sempre ajuda a reflectir sobre os assuntos que vejo nas notícias e as conversas que oiço quando decido dar uma volta por aí.
As preocupações de agora são de tal maneira ridículas que se torna uma tarefa hercúlea não me desfazer a rir à frente de toda a gente.
Quem é que no seu perfeito juízo assume o fim do mundo com base num qualquer insulto numa qualquer rede social, acha deveras importante a vida de outrem, e defende que cultura geral é um desperdício de tempo? E no fim eu é que sou insano…
O comodismo e os media são o mesmo que políticos em tempos de eleições, parecem conferir apenas vantagens, até que são postos em prática.
O comodismo torna as pessoas preguiçosas e dá-lhes a falsa esperança de que alguém vai resolver os problemas todinhos, conferindo aos seus crânios um aspecto mais que oco, e os media funcionam tão bem que às vezes se atrapalham no que dizem, podendo até mesmo ter como fonte a sua própria imaginação.
O que seria deste mundo se essas pessoas que vivem de futilidades desaparecessem de um dia para o outro? Pode ser algo bastante improvável, mas um homem pode sempre sonhar… e por falar nisso, está na hora de… ir apanhar ar fresco.

Death Master

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Um animal enjaulado


O que é isso de liberdade?
O que é ao certo?
Todos procuram a sua igualdade
E tê-la sempre por perto.

Mas será ela realmente possível?
Será possível ir para além da física,
Ir para além do incrível,
E ignorar a nossa própria química?

Foi possível descobrir mundos.
Mas a Terra ficou pequena.
Procuraram-se então outros mais ou menos moribundos,
Mas ainda hoje não se mudou de cena.

Com o tempo será possível viver neles,
Mas não será possível fugir de nós.
A vida de um pode ser reles,
E mesmo uma boa imaginação vai deixá-lo a sós.

Pode-se sonhar com mundos que não existem,
Falar com pessoas imaginárias,
E quiçá, crianças com elas se criem,
Mas jamais mudarão as realidades solitárias.

A imaginação desaparece,
E a solidão retorna,
Tal como uma prece
Indesejada que todos transtorna.

Aquilo que o cansaço faz a uma pessoa.
Tudo parece mais nítido,
E igualmente dito à toa,
Podendo ao mesmo tempo ter ou não sentido.

Mas cada um tem a sua cela,
Nuns o ego, a ganância, ou a aparência,
E noutros os outros, ou uma demência maior que ela,
Mas todos se enjaulam com uma certa frequência.


Talvez seja o escritor quem mais o faça.
Desabafar com as folhas
Porque não arranja quem faça
Esquecer as más escolhas.

É estranho e ao mesmo tempo singular
Pensar nas nossas personagens como mais humanas
Que os humanos com que temos que partilhar
As nossas memórias quotidianas.

Pode achar-se o método do escritor
Algo estúpido ou até mesmo inútil.
Mas ele escreve sem pudor,
E, sempre que pode, a insultar a vida fútil.

Talvez seja este o método certo,
Enjaular-se com palavras que nos compreendem,
Em vez dos que temos por perto,
E que pela diversão mentem.

Já se sabe qual é a jaula do escritor,
Um escravo da sua personagem pura,
Mas quanto ao leitor,
Qual é a sua?







Ass: Daniel Teixeira de Carvalho