quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Quando a criação o exige

           Quando a criação o exige, ela acontece e nasce. Não interessa o que possa estar entre ela e a sua vinda, tal simplesmente acontecerá. Todos e quaisquer problemas desvanecem, permitindo que a mente possa estar apenas focada neste propósito que agora lhe é único e absoluto, pois nada é mais importante que a criação.

            Quando a criação o exige, nenhuma incapacidade, seja ela física ou emocional, é válida. Perante a iminente chegada da criação, o corpo cansado desperta e o corpo ferido sara, podendo somente retornar a estas condições ultimamente prejudiciais quando a criação está concluída.

            Quando a criação o exige, apenas ela importa. Ela ordena, e o corpo segue. Ela dita, e a mente obedece. E quando alguma oposição é feita, ela simplesmente consome o responsável pela mesma e curva-o perante a sua vontade.

            Quando a criação o exige, ela existe. Independentemente da circunstância, será apenas uma questão de tempo até que tal aconteça, pois a vontade da criação tem vontade própria, total e absoluta sobre o corpo, a mente e a alma.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Semi-consciência

            Com o passar do tempo dei por mim a aperceber-me da curiosa forma como as palavras aparentam surgir. Apesar de por vezes ser realmente necessário intervir, forçando-as a organizarem-se como é suposto, noutras, algo bastante peculiar tem lugar.

            Em inúmeros contextos, em que as ideias estão absolutamente presentes, elas nascem e crescem no papel de uma forma natural, como se fossem elas a tomar a iniciativa por detrás de todo o processo. Quando tal tem lugar, a minha consciência dispersa-se, ficando eu total ou parcialmente alheio ao que se passa à minha volta e ao que está a ser escrito diante de mim. A este estado, chamo-lhe estado de semi-consciência, e enquanto ele decorre, apenas as palavras e a história que elas querem contar interessam.

            É um estado e um processo que me faz questionar o tipo de controlo que detenho sobre o trabalho em questão. Enquanto que por vezes me vejo a escrever pela necessidade de escrever, noutras tudo flui naquilo que poderia apenas ser descrito como todo o meu ser não ser mais que um fio condutor entre a ideia e a sua criação.

            Algumas personalidades já se assumiram como escravas das suas criações, e embora eu sinta que existe uma política de concordância entre mim e as minhas, não consigo deixar de pensar que por vezes elas querem algo mais. E, muito sinceramente, ainda bem que assim é.

            Todo o processo é belo, desde a ideia que do nada surge, que é prontamente trabalhada tanto consciente como inconscientemente e que começa a ser desenvolvida por ela própria apenas para a minha consciência regressar e ver que tudo está concluído.


            O que quer que isto realmente seja, é uma excelente forma de trabalho e, uma que tenciono manter. Desde que me permita decidir como tudo fica, estou disposto a aceitar as respectivas condições. Desde que não se desenvolva nenhuma dependência, não haverá problema.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Respira

Inspira e sente as cinzas.
Deixa o seu ardor
Consumir o teu interior.
Aproveita este raro momento
Que surge com alento
Numa altura de caçadores e presas.

Respira e deixa o negrume entrar,
Percorrer e viver,
Crescer e plantar
A semente que te irá fazer recordar
A vida que um dia se irá perder.

Deixa-as fluir
Como as chamas que te rodeiam.
Deixa-as viver,
Como a ti deixaram.
Deixa-as morar,
Para manter o que te recordaram.

Aceita o teu destino.
Aceita a sua fatalidade.
Aproveita cada momento, digno,
Fiel à realidade,
Pois tal como das cinzas virás,
A elas tornarás.

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Pulsar

De dor o meu coração padece
Ao saber do que disseste,
De que tudo não passava de uma ilusão,
De que tudo foi em vão.

Entristece-me profundamente,
Acreditar seriamente
Nesta tenebrosa verdade
De que agora já é tarde.

Sinta-se o que se sentir,
Venha o que tiver que vir,
Seguir-se-á em frente
Com um pulsar intermitente.

Fica apenas sabendo
Que as palavras, leva-as o vento,
E que o inexistente coração
Assim o é desde então.

Nada mais
Me enerva de proporções tais,
Como este odiar
Por detrás do desejo de te amar.