terça-feira, 24 de outubro de 2017

Semi-consciência

            Com o passar do tempo dei por mim a aperceber-me da curiosa forma como as palavras aparentam surgir. Apesar de por vezes ser realmente necessário intervir, forçando-as a organizarem-se como é suposto, noutras, algo bastante peculiar tem lugar.

            Em inúmeros contextos, em que as ideias estão absolutamente presentes, elas nascem e crescem no papel de uma forma natural, como se fossem elas a tomar a iniciativa por detrás de todo o processo. Quando tal tem lugar, a minha consciência dispersa-se, ficando eu total ou parcialmente alheio ao que se passa à minha volta e ao que está a ser escrito diante de mim. A este estado, chamo-lhe estado de semi-consciência, e enquanto ele decorre, apenas as palavras e a história que elas querem contar interessam.

            É um estado e um processo que me faz questionar o tipo de controlo que detenho sobre o trabalho em questão. Enquanto que por vezes me vejo a escrever pela necessidade de escrever, noutras tudo flui naquilo que poderia apenas ser descrito como todo o meu ser não ser mais que um fio condutor entre a ideia e a sua criação.

            Algumas personalidades já se assumiram como escravas das suas criações, e embora eu sinta que existe uma política de concordância entre mim e as minhas, não consigo deixar de pensar que por vezes elas querem algo mais. E, muito sinceramente, ainda bem que assim é.

            Todo o processo é belo, desde a ideia que do nada surge, que é prontamente trabalhada tanto consciente como inconscientemente e que começa a ser desenvolvida por ela própria apenas para a minha consciência regressar e ver que tudo está concluído.


            O que quer que isto realmente seja, é uma excelente forma de trabalho e, uma que tenciono manter. Desde que me permita decidir como tudo fica, estou disposto a aceitar as respectivas condições. Desde que não se desenvolva nenhuma dependência, não haverá problema.

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