sexta-feira, 2 de março de 2018

Marcas de Sacrifício


            Ainda é tudo muito confuso. O efeito da anestesia ainda está presente e as minhas ideias ainda não são minhas. Sinto apenas que estou amarrado a uma cama de hospital e que a luz do meu quarto parece queimar os meus olhos.

            Após os primeiros segundos de consciência, as memórias vão regressando, e tudo começa a fazer sentido. Os meus gritos alertaram um vizinho que chamou os bombeiros. Encontraram-me meio estendido no chão da minha sala quase que a nadar no meu próprio sangue. Perdi a consciência pela primeira vez assim que eles me tocaram.

            Acordei por momentos já no hospital, cercado por médicos e enfermeiros a murmurar indistintamente. Consegui apenas ouvir algo sobre tendências masoquistas. O flash de uma câmara fotográfica foi mais que suficiente para eu voltar a perder os sentidos.

            Apesar da medicação, sinto o meu corpo a gritar de dor por baixo das várias ligaduras que apertam todo o meu corpo. Os cortes foram profundos o suficiente para isso mesmo. Não é uma questão de masoquismo. Não tiro prazer nenhum disto. É uma questão de obrigação e nada mais. Tive que o fazer… transformar o meu corpo numa tela para runas e símbolos…

            Um preço que estou disposto a pagar para nos salvar a todos.

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