Olha-me nos olhos e
diz-me o que vês. Vá, diz-me. Estou à espera. Sempre disseram que os olhos são
a janela para alma, por isso pergunto-te, mais uma vez, o que é que vês? Vês
alguma alma? Vês a sua ausência? Algo a tomar o seu lugar? Se calhar esta
última. Vem, deixa-me mostrar-te. Olha, e deslumbra-te!
Vês todos estes seres distorcidos? Vês as suas figuras a
torcerem-se sobre elas próprias, a gritar com as cordas vocais que já lá não
estão? Bela a música que cantam! Uma inspiração e uma verdadeira elevação do
espírito! Que mais temos? Que mais vês? Olha além, os contornos desfigurados de
pessoas reais. Mas atenção que não são estas projecções que o são. Não. Elas
são-no mesmo assim lá fora. Aqui elas são simplesmente retratadas tal como são,
expostas em todo o seu horroroso e nojento esplendor! Mas anda que isto pouco
ou nada interessa. Afinal de contas, só agora é que estamos a começar!
Olha aqui em baixo. Olha bem. Parece um espelho, não
parece. Mas não olhes muito tempo. Podes perder-te no outro lado, e sabe-se lá
o que seria de ti! Olha agora ali. Vês todos aqueles ligamentos? Todas aquelas
saturações ainda a escorrer este sumo vital. Olha de mais perto. Sim, consigo
ver a realização nos teus olhos. Os pontos ainda estão frescos. Sim, todos
eles, e sim, todos eles têm longos anos. Depois de algum tempo, apercebes-te
que não vale a pena curar o que quer que seja e que é melhor deixar tudo como
está! Mas anda, há muito mais para ver. Mas não mexas em nada! Rasga isto outra
vez e estarás em apuros!
Estamos mais perto agora. Consegues ouvir os gritos?
Estes são novos. Enquanto que os outros eram mais reais, estes não são tanto.
Eles vêem da imaginação, da vontade total e absoluta de fazer com que os
soltem! E porque é que estão aqui? Porque a força de vontade para os conter é
demasiado grande! Torna-se mais debilitada por vezes, mas aguenta-se… até ao
dia em que não o fará. Ah, como os imagino a soltar guturais gritos enquanto a
pele é rasgada, a carne cortada e os ossos partidos. A espera por algo tão
grandioso mata-me!
Ora cá estamos, no centro de tudo! Nas profundezas da
mente de onde tudo isto é fruto! Não é belo? Não é magnífico? Não te dá vontade
de simplesmente largares tudo e te perderes aqui?
Diz-me, o que é que vês? Diz-me… ou será que terei de
fazer de ti um exemplo?
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