Lembro-me da primeira vez
que morri. Lembro-me de sentir os problemas que me atormentavam a
transformarem-se em nada. Lembro-me de sentir o vazio a tomar-me até que eu me
tornei parte dele.
Naquele único momento, naquela transição, não havia nada
a não ser paz e tranquilidade. Nada passava pela minha mente. Apenas estava
ali, a fluir, a navegar algures.
Nas profundezas da obscuridade, senti algo a chamar-me.
Até aos dias de hoje, continuo sem saber o que esse algo realmente era. Apenas
que disse o meu nome e que, quando dei por mim, o nada agora era algo, ar
entrava e saía dos meus pulmões e sangue corria novamente pelo meu corpo. Estava
novamente vivo, mas havia algo de diferente. O chamamento continuava presente,
e nele um propósito.
O período de aceitação não foi fácil. Dei por mim a
regressar àquele estado mais que uma vez, mas independentemente de como o
fazia, vida era-me sempre devolvida. O que quer que seja que me obrigava a
voltar, não parecia enfuriar-se com este meu comportamento. Sentia o mesmo que
sentira da primeira vez, um chamamento sereno que queria apenas ver-se
cumprido. Dei por mim a ceder e a aceitar, pois mais nada podia fazer.
Quanto tempo passou? Quantos ajudei na transição? São
duas das perguntas às quais não tenho resposta. O tempo deixa de ter qualquer
interesse quando ele deixa de fazer parte das nossas vidas.
Ainda me lembro da primeira vez que morri. O resto? É
história.
Sem comentários:
Enviar um comentário