Ela
chorava baba e ranho enquanto esperava pela melhor altura para sair daquela
empoeirada sala de arrumos. A soluçar, abriu a porta uns meros centímetros, e
espreitou. Encontrou o corpo da mãe completamente retalhado por cima do tapete,
outrora verde, da sala-de-estar. Aliás, a única coisa que ela conseguia ver,
era o tronco e um bocado da cabeça, que tinha rebolado até aos pés do sofá mais
próximo. Quanto a braços e pernas, encontrava-se um pedaço aqui e ali, ora no
chão, ora nos sofás, ora colados nas paredes. Ouviu sons de luta vindos daquela
mesma sala. Abriu um pouco mais a porta, e deu o primeiro passo. Assim que o
fez, ouviu o som de aço a cortar carne e a partir osso, seguindo-se um doloroso
grito e a figura do seu pai a cair no chão, para além da parede que até então o
ocultava. Com a mão direita cobriu o golpe que tinha no profundo golpe que
tinha no ombro esquerdo, e por onde eram espirrados enormes jactos de sangue.
Rodou a cabeça na direcção, estendeu-lhe o braço e no momento em que ia falar,
um machado decidiu trespassar-lhe o crânio.
Ela
não conseguiu conter o grito, o que se mostrou ser um erro crasso. Tomando o
machado e fazendo-se mostrar, apareceu ele, coberto pelo sangue dos pais dela,
e rangendo os dentes num arrepiante sorriso.
Ela
limitou-se a fazer aquilo que o seu instinto de sobrevivência lhe gritava: “CORRE!”.
Correu o mais depressa possível por aquele corredor que levava à saída das
traseiras, enquanto ele a perseguia a uma velocidade claramente maior.
Aproximou-se da porta, e o terrível hábito de tocar nas paredes quando se preparava
para mudar de divisão custou-lhe caro. Ele atirou o machado na sua direcção e
apanhou-lhe o braço direito. Imersa naquela horrível dor, deu por ela de
joelhos a segurar aquele mesmo braço, que agora pintava a parede de vermelho.
Ele aproximou-se e segurou no machado. Olhou-a, curioso para saber o que ela ia
fazer a seguir. Nada, absolutamente nada. Limitou-se a ficar ali, a soluçar e
sem forças para pedir misericórdia. Farto desta vista, ele depositou todo o seu
peso no machado, e, perante isto, o braço não pôde fazer mais nada a não ser
deixar-se quebrar, caindo no chão, agora inútil, enquanto a sua dona soltava um
grito tal que de certeza que se ouviu em todo o bairro. Havia um rio de sangue
agora, e ela tentou fugir mais uma vez. Deu os primeiros passos, mas não passou
disso, começou a perder forças, a ficar com a visão turva. Não conseguiu evitar
a cair quase inconsciente no chão.
Ele
sabia que ela estava a morrer, algo que ele não podia deixar acontecer, ou pelo
menos não para já. Tirou o cinto das calças e com ele apertou-lhe o resto do
braço o melhor que conseguiu, diminuindo significativamente a quantidade de
sangue que se perdia. Depois disto, sentou-a encostada à parede, e perante o ar
pálido dela, sorriu mais uma vez. Finalmente podia acabar com ela como tinha
planeado.
Sacou
da sua fiel navalha, e com ela e começou a faze pequenos cortes em todo o
corpo, não deixando escapar nenhuma parte, nem mesmo o angelical rosto que ela
tinha. Praticamente não tinha forças para gritar, mas ele queria continuar a
ouvi-la, e sabia exactamente como. Tirou um frasco de álcool etílico e
derramou-o todo em cima dela. E assim que entrou em contacto com aquelas
feridas frescas, finalmente teve o espectáculo que queria. Aquele grito podia
muito bem durar horas. Ele ainda ficou alguns segundos a saborear aqueles
gritos, até que deixou todo aquele prazer e a vontade de acabar com ela de uma
vez por todas assumir o controlo. Tomou o machado mais uma vez e começou a
esquartejá-la violentamente como um qualquer animal, começando pelo outro braço
e acabando nas pernas. Parou uns segundos para remexer no interior do seu
casaco. De lá tirou uma caixa de fósforos. Acendeu um, e deixou-o cair em cima
dela, incendiando-a. Outro grito, mas este foi rapidamente silenciado. Pela
última vez, ele tomou o machado e lançou-o em direcção ao pescoço,
decapitando-a. Como não podia ficar assim, no preciso momento em que a cabeça
rebolava na sua direcção, ele recuou uns passos, e correu na direcção dela,
pontapeando-a pela janela que se transformou em mil pedaços.
Se
pensas que a vida é um conto de fadas, estás bem enganado.
Sem comentários:
Enviar um comentário