A
indiferença alheia consegue ser um problema considerável, principalmente quando
não existe controlo sobre a mesma. Uma coisa é presenciarmos algo socialmente
susceptível, reconhecê-lo como tal e ser movidos pelo mesmo a tomar uma acção.
Uma outra é presenciar o mesmo acto, reconhecê-lo também como socialmente
susceptível mas não ser movido pelo mesmo a fazer o que quer que seja.
Toda esta inacção mostra-se como
problemática, uma vez mais por não se poder fazer nada no sentido de a
reverter. O simples facto de se reconhecer o problema, tanto da inacção como do
acto que leva até ela, deveria ser um excelente passo na direcção correcta.
Existe consciência do problema em questão e das suas implicações. Contudo, o
simples facto de haver uma construção e uma estruturação de personalidade
simplesmente diferente faz com que tamanhos fenómenos sejam filtrados de uma
outra forma, sendo prontamente condicionados à indiferença por força da sua aparente
insignificância.
Mas será de censurar esta “má”
construção? Esta estruturação “deficitária”? Assumindo o papel de advogado do
diabo, seria de esperar que numa vida cheia de experiências sociais onde reinam
a injustiça e toda uma série de incompetências, juntando-se à mistura vários
esforços no sentido lato da expressão com o intuito de minimizar a situação,
que o mais comum dos mortais acabe por perder sensibilidade para com os outros.
Uma outra alternativa plausível, que
não se dissocia completamente da anterior, prende-se, uma vez mais, à racionalização
da emoção. Aqui, a emoção deixa de estimular as reacções comportamentais que
lhe são associadas, sendo, em vez disso, processada de uma outra forma, sob uma
perspectiva racional de interpretação e de compreensão do fenómeno, focada na
sua resolução. Uma dualidade simples de acção-reacção racionalizada.
É um problema considerável, sem
dúvida, mas um com o qual temos que aprender a lidar, uma vez que, quer
queiramos quer não, trata-se do retrato claro da nossa forma actual de
funcionar.
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