terça-feira, 2 de janeiro de 2018

A besta que pacientemente observa

           Por vezes as interpretações que fazemos da nossa realidade, depois de processadas por todos os nossos filtros de estruturação de personalidade, atingem proporções minimamente curiosas, e ocasionalmente aterradoras.

            Algures na minha construção, dou por mim a sentir um desejo claro por caos em todas as suas formas, variando em intensidade e nunca anunciando a sua próxima visita.

            Num momento de tranquilidade absoluta onde um simples, inocente e delicado sorriso surge para abrilhantar um dia normal, o mesmo distorce-se numa amálgama de sangue e lágrimas, rapidamente retrocedendo ao seu aspecto original assim que a vontade caótica é atenuada.

            Várias são as razões que podem justificar este fenómeno, desde algum erro na estruturação dos padrões comportamentais socialmente aceites, à existência de alguma outra forma de anomalia física ou o total oposto.

            Independentemente do que realmente provoca esta sede, é inegável que ela existe, acompanhada por uma ponderação consciente quanto ao melhor método a utilizar, o teor de sofrimento associado e mais adequado para o alvo em questão e a probabilidade de vir a ser detectado.

            Ainda assim, ainda não se caiu na tentação de simplesmente ceder e deixar o líquido escarlate correr pelas ruas. Felizmente, para o melhor e para o pior, outras alternativas foram encontradas e aperfeiçoadas de forma a garantir que tal não é necessário acontecer.

            Contudo, está sempre presente, sempre atenta, à espera do momento certo em que não haverá qualquer impedimento, ou por força de um improvável momento de distracção, por um outro episódio emocionalmente avassalador… ou simplesmente porque deixou de haver uma razão para a conter.

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