Sempre me disseram que os
olhos eram o espelho da alma. Que através destes estranhos globos era possível
ver a verdadeira natureza daquilo que nos move e daquilo que somos. Durante
muito tempo dei por mim a acreditar nisso tudo, e admito que ainda acredito… de
certa forma.
Grande parte da minha vida foi passada a encarar os
outros como livros abertos. Os seus maneirismos, as suas formas de ser e de
estar, e principalmente os seus olhos diziam-me tudo aquilo que eu queria saber…
tudo e muito mais.
Todos não somos mais que uma compilação de segredos mais
ou menos bem guardados. Enormes livros até, que podem muito bem ficar
escondidos numa qualquer prateleira durante tempo incerto.
Toda esta metodologia fascinava-me e movia-me. Fazia aquilo que gostava e era bom nisso. Quantos
podem dizer o mesmo? Contudo, o humor sarcástico do destino decidiu pregar-me
das suas e virar este meu talento contra mim. A quantidade de casos que me
passavam para as mãos chegou a ser demasiada ao ponto de me provocar um esgotamento.
Nenhuma mente consegue processar tamanha informação em tão pouco tempo e
permanecer sã. A realidade distorceu-se e eu dei por mim a perder-me nela.
O pior aconteceria não muito depois, quando estava
perdido ao ponto de a realidade que agora tinha diante de mim, parecer a
realidade real. Movido por mãos que já foram minhas, tomei os olhos que já
foram meus como forma de, com sorte, voltar a ser eu… e posso dizer que
consegui.
Tudo voltou ao que era. Pelo menos a realidade em si. Quanto
ao resto… mudou por completo. Deixei de ter livros para ler, pois não tinha
olhos para o fazer. Foi um choque ao início. Aquilo que mais gostava de fazer
foi-me tirado, de todas as pessoas, por mim mesmo. Mas se houve algo que realmente
me marcou, foi a realização do que aquela expressão realmente significava. O
espelho de algo não o representa, e no meu caso em concreto, face às reacções
que todos os meus restantes sentidos vieram a contemplar, a minha alma é do mais horrendo que
se pode ver.
Sem comentários:
Enviar um comentário