Lembro-me bem daquele
dia. Demasiado bem. Milhares reuniram-se lá para assistir à cerimónia, e claro,
ao responsável máximo que cá veio presidir as celebrações. A fé que nos unia e
que nos guiava, ali estava realmente viva. Não há palavras para descrever. Mas
subitamente, tudo mudou.
Não sei ao certo o que se passou. Foi demasiado rápido e
o caos que rapidamente ganhou forma tornou impossível qualquer forma de
contexto. Lembro-me de ter ouvido explosões. Lembro-me ter ouvido balas a serem
disparadas. Lembro-me dos gritos e das lágrimas. Gritos e lágrimas de homens,
mulheres e crianças que ali se dirigiram com as melhores intenções.
No meio da multidão em fuga, lembro-me de ver o
responsável máximo prostrado no chão, tal como os que estavam junto dele. Dobrados
como a estrutura que tinham sobre ele. As suas vestes de um branco divino
estavam agora vermelhas, e era possível ver o sangue a escorrer pelo e para o
chão. O próprio céu que estava limpo agora soltava um longo pranto.
Muitos outros caíram, alguns dos quais ao meu lado. As
suas expressões estão bem claras na minha memória. E claro que me lembro de
tudo. Foi a última coisa que vi.
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