terça-feira, 2 de maio de 2017

Profecia

         Lembro-me bem daquele dia. Demasiado bem. Milhares reuniram-se lá para assistir à cerimónia, e claro, ao responsável máximo que cá veio presidir as celebrações. A fé que nos unia e que nos guiava, ali estava realmente viva. Não há palavras para descrever. Mas subitamente, tudo mudou.

            Não sei ao certo o que se passou. Foi demasiado rápido e o caos que rapidamente ganhou forma tornou impossível qualquer forma de contexto. Lembro-me de ter ouvido explosões. Lembro-me ter ouvido balas a serem disparadas. Lembro-me dos gritos e das lágrimas. Gritos e lágrimas de homens, mulheres e crianças que ali se dirigiram com as melhores intenções.

            No meio da multidão em fuga, lembro-me de ver o responsável máximo prostrado no chão, tal como os que estavam junto dele. Dobrados como a estrutura que tinham sobre ele. As suas vestes de um branco divino estavam agora vermelhas, e era possível ver o sangue a escorrer pelo e para o chão. O próprio céu que estava limpo agora soltava um longo pranto.

            Muitos outros caíram, alguns dos quais ao meu lado. As suas expressões estão bem claras na minha memória. E claro que me lembro de tudo. Foi a última coisa que vi.

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