Procurar definir o que a
realidade realmente é acaba por ser o mesmo que procurar determinar o quão
simples o contínuo espácio-temporal acaba por ser. A sua aparente simplicidade
proporciona um infinito número de possibilidades quanto ao seu verdadeiro
propósito e significado, todas elas válidas, somente umas mais que outras.
Dizer que o real é tudo aquilo que os nossos sentidos são
capazes de perceptir não é mais que um acto de preguiça abismal praticado por
aqueles que se encontram alheios ao verdadeiro potencial desses mesmos
sentidos. Em parte, a culpa não é inteiramente deles, mas sim desta sociedade
paradoxalmente funcional onde nos encontramos e onde cada indivíduo é visto
apenas como uma peça numa longa e complexa máquina cujo funcionamento deve ser
mantido a todo o custo. Contudo, isto não faz deles inocentes.
Uma vez mais, ter o que vemos, ouvimos, saboreamos,
cheiramos e sentimos como real e garantido é algo preguiçosa e perigosamente
ingénuo. A subjectividade da realidade assim o garante. Podemos ir ainda mais
longe e interpretá-la filosoficamente, onde então chegamos à conclusão de que o
simples facto de questionarmos a sua existência é mais do que suficiente para
garantir a sua inexistência. Neste sentido, e de forma a evitar falsas
percepções, a chave está em manter uma mente aberta, mente essa cuja aparente
simplicidade é também inexistente.
A complexidade da mente humana não é uma incógnita mas
sim uma variável, acompanhando directamente o interesse individual para o seu
aperfeiçoamento. Ainda assim, é inegável que o seu potencial inerente é
igualmente infinito quando comparado com os já referidos. Isto leva-nos,
portanto, ao verdadeiro propósito deste diálogo. Apenas porque algo se forma,
acontece ou se desenrola na mente de alguém não implica que não seja real.
Claro que de um ponto de vista sensorial a interpretação cai na subjectividade,
mas, ao fim e ao cabo, acabamos por não perceptir nada fisicamente.
Sejam essas construções memórias ou frutos do trabalho
árduo da nossa imaginação (consciente ou inconscientemente), são
indubitavelmente reais e um factor importante no que toca a assegurar o nosso
bom funcionamento. Claro está que tudo deve ser racionalizado.
O menosprezar de tamanho potencial deve ser visto como
uma enorme pena e uma tragédia ainda maior, principalmente quando tal se deve à
livre vontade que o indivíduo em questão demonstra quando se vê chamado a
assumir o seu papel na complexa máquina social, no qual arrisca perder a sua
humanidade no processo, ou pelo menos parte dela, a parte que o permite fugir
da realidade e experienciar todas as outras.
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