sábado, 19 de março de 2011

Sermão

            Através das suas palavras, Padre António Vieira apresentou o Sermão de Santo António aos Peixes, sermão este que visa a criticar a sociedade do século XVII por esta insistir em permanecer ignorante ao ponto de rejeitar quem a pretende ajudar, o que levou Santo António a falar aos peixes que tiveram a decência de o ouvir, e que eles próprios representavam elementos variados da sociedade ignorante.
            Mais uma vez é necessário recorrer ao sermão. Desta vez não serão usados peixes, mas sim a própria sociedade, mesmo que ela continue a não ouvir.
Políticos:
            Insistem em fazer promessas que acabam por não cumprir e esta moda é passada ao resto da população. Depois admiram-se que o povo esteja descontente, que esteja tudo à beira de uma revolução e que o país que governam esteja mergulhado numa crise absoluta.

Médicos:
            São eles que garantem a saúde do povo, saúde que não está ao alcance de todos. Os ricos ficam sãos e os pobres morrem.
           
            São longas as listas de espera. Muitos são os que lá ficam sem ver a cura e, mesmo que a lista seja extensa, isso não impede que alguém de um cargo mais elevado passe à frente de todos só para uma consulta.

Engenheiros:
            Os edifícios que nos rodeiam são planeados por estes. Preenchem as paisagens, trazem fama à terra, mas conferem protecção a quem neles habita? Quantos sucumbiram a derrocadas causadas por fenómenos naturais, e outros nem tanto? Podem ser estes edifícios construídos com uma maior segurança? Podem, mas pelos vistos, o dinheiro é mais importante que a própria vida.

Professores:
            Está nestas mãos a educação dos jovens. Jovens dos dias de hoje que preferem álcool, tabaco e drogas a uma vida com base na educação, mesmo sabendo que é essa educação que lhes confere um futuro decente. Pena que por vezes os próprios professores não cheguem a dar o exemplo correcto, influenciando no sentido da destruição das jovens vidas.

Pais:
            A educação começa com eles. São eles que dão os primeiros exemplos a seguir e, se alguma das suas crias assumir um comportamento incorrecto, em parte, a culpa é deles.

Universitários:
            A um passo de uma vida de trabalho plena de sucesso. O caminho está quase no fim. Porque é que há quem insista em ficar com cursos por acabar, preferindo ridículas vidas de boémia e levando pelo mesmo caminho quem realmente se importa com o sucesso na vida?

Juízes:
            A personificação plena da Justiça, mas como esta também é imperfeita, também eles o são. São eles que têm a última palavra e o martelo que empunham é que estabelece a diferença entre uma vida de liberdade e uma outra atrás das grades. Contudo, também são cegos como a própria Justiça, regendo-se apenas pelo que vêem, agindo por vezes como se não tivessem capacidade de raciocínio.

Advogados:
            A linha de defesa. Astutos com as palavras e os gestos, mas não se importam com o veredicto final, apenas com a parte que lhes toca, caso contrário, não defenderiam aqueles que sabem serem culpados.

Agentes da autoridade:
            Limpam as ruas dos mais diversos criminosos. Problemático é o facto de serem limitados pelo Sistema Judicial que na viravolta, está sempre do lado do que é procurado. Porquê? Porque é um sistema meigo, com penas curtas para crimes graves, alguns dos quais deviam ser cumpridos com algo bem mais drástico, quem sabe, talvez a pena de morte.

Comerciantes:
            O comércio tradicional. O que seria de nós sem ele? O que seria de nós sem aquilo que é tipicamente nosso? Está nele parte da nossa cultura. Só é pena que alguns dos produtos que vende matem aos poucos quem os insiste comprar. É compreensível que se permita tal situação, a subsistência hoje em dia é difícil.

Corruptos:
            Desporto, informação, do sistema judicial ao educativo, passando pelo político. Abusando do povo para seu próprio proveito e divertimento. Fazem e vêem sofrer no conforto dos seus grandes carros e nos seus apartamentos em locais mil.

Fumadores, alcoólicos, drogados e tantos outros:
            Envoltos num ou mais destes vícios, com as vidas por um fio e com a ideia fixa de que já não há escapatória. Não têm culpa do que aconteceu. O mundo e o meio encarregaram-se de que se comportassem desta forma, mas mesmo que não pareça, tendes dentro de vós a força para disto fugirdes, e muito, muito mais.



Padres:
            Louvado seja Deus por conseguir habitar nos corações de alguns dos que prometeram servi-lo para todo o sempre. Cada vez há menos homens do Senhor de mente e corpo livres de qualquer pecado. Alguns chegam a ser piores que o povo que criticam, dando eles próprios os maus exemplos. Quem diria que a corrupção, a sede por dinheiro e luxúria, passando pela destruição da pureza de inocentes e ingénuos jovens, seriam capazes de chegar ao Santíssimo?


Povo:
            Independentemente do cenário, és sempre tu o que mais sofre. És tratado como um escravo, como uma fonte de entretenimento. Coitado de ti, Zé Povinho, que estás sempre a apertar o cinto, mas o poder não está nos cargos, mas sim no interior de cada um. Está nas tuas mãos a capacidade de mudança e nada nem ninguém são capazes de a tirar. As grandes revoluções foram feitas através do teu engenho. Foste tu quem combateu as grandes guerras, não os engravatados que para lá te mandaram. Estás descontente e está mais que na hora de te ergueres e saíres à rua, com ou sem armas. Basta o empenho e a vontade. Não desistas. Luta por aquilo que é teu: um mundo ideal para que a tua descendência possa viver em segurança e em paz. Não tenhas medo de recorrer à violência, pois é a única linguagem que se compreende nos dias de hoje. Não tenhas medo de lutar.
           
            FORÇA!




















Ass: Daniel Teixeira de Carvalho

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