Interessante esta história da fragmentação.
A criação de outros para vivermos o que não conseguimos.
A capacidade de viver com ou sem a emoção.
Método este protagonizado por Pessoa e seus heterónimos.
Tal não se aplica a mim.
Tudo o que tenho é um pseudónimo.
Com um nome estrangeiro, sim,
Mas não é nenhum heterónimo.
Encontramo-nos por vezes.
Sentamo-nos à mesa frente a frente,
Aperfeiçoando, limando, e aguçando as armas das nossas preces.
Tudo isto para salvarmos esta gente.
Eu com palavras e tinta.
Ele com aço, chumbo e algo de um escarlate vivo.
Não há ninguém que sobre o nosso objectivo minta.
Contudo, não deixo de sentir um enorme vazio.
Vivo no passado.
Tento voltar a vivê-lo,
Projectando-o no futuro que quer ser adorado,
E que fortemente decorado quer sê-lo.
Ele despreocupa-se com o passado,
Mesmo que tenha sido ele quem o criou.
Espera ansiosamente por um futuro exterminado.
Um cenário apocalíptico, algo que sempre o animou.
Ao ver-me como barreira a isto,
Agarra-me a mão que escreve e aponta-me uma arma à cabeça,
Enquanto eu afasto o que me agarrou e lhe aponto uma lâmina ao pescoço num gesto.
Um grande silêncio começa.
Os olhares cruzam-se,
Tentando cada um de nós decifrar os pensamentos do outro.
As respostas às perguntas encontram-se,
E mais estranho se torna este encontro.
Grande dilema.
Ignorar e destruir tudo, ou trazer tudo de volta ao que era?
Não me salva nenhum lema,
E da verdadeira resposta ainda se está à espera.
A nenhum consenso se chega,
Mas cada um acaba por voltar ao seu lugar.
O retorno a isto nenhum de nós nega,
Enquanto as nossas armas ficamos a arrumar.
Mais cedo ou mais tarde levantamo-nos.
Com planos traçados ou não.
E enquanto os nossos bens arrumamos,
Sente-se um peso num coração.
Esse peso que se sente é ignorado.
As feridas e a dor surgem,
Mas isso já era esperado.
Admita-se que por vezes a presença da dor sabe bem.
Uma sinistra gargalhada partilha-se,
Seguida da colisão de duas palmas de mão.
Mais uma vez o olhar junta-se,
E apercebemo-nos da nossa solidão.
Sob este pensamento,
Abandonamos a mesa nesta paisagem irregular.
Afastamo-nos em andamento,
Enquanto nos voltamos a tornar num ser singular.
Não admira que por vezes tenha o comportamento alterado.
A diversificada experiência que tive já a dei.
Estarei eu fragmentado?
Não sei.
Ass: Daniel Teixeira de Carvalho
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