O ódio, tal como qualquer
outra emoção, em toda a sua subjectividade, não é algo inacto, não é algo que
surge da imensidão do nada. Tal como qualquer outra emoção, o ódio é incutido,
é despoletado. O indivíduo em questão tem que observar algo que, pela sua forma
de ser, desencadeará como resposta, ódio. Tudo não mais é que uma simples
acção-reacção.
Quanto à acção em si, independentemente daquilo que possa
ser, tem um factor comum: ou é algo feito por alguém, ou algo que faz parte
desse mesmo alguém. Duas distinções que, ao fim e ao cabo, são apenas faces
opostas da mesma moeda.
Na nossa forma de ser, na nossa forma de trabalharmos
ansiedade, prontamente aprendemos que nem sempre nos é permitido ser quem
somos, pelo que, em vez disso, devemos assumir um papel que, no máximo dos
máximos, pode incluir traços da nossa verdadeira personalidade. Nesse mesmo
desempenho, muito fica escondido do observador descuidado, nomeadamente
interesses pessoais e acessos associados ao papel que se desempenha. Posto isto,
a representação decorre, com essas mesmas acções a terem lugar, ocultas ou à
vista de toda à gente, e é só uma questão de tempo até que alguém veja para
além da ilusão, e no meio da desilusão e frustração, sinta uma insuportável onda
de ódio.
Se ódio é a reacção, então à acção é a desilusão e a
frustração que se tem o prazer de se observar. Desilusão porque há uma realização
face à mentira que até então era tida como verdade única e absoluta, e
frustração porque não há nada que se possa fazer para contrariar o que
aconteceu.
Com isto, a acção aconteceu e despoletou uma reacção. Contudo,
a reacção não dura somente no momento. Toda ela é uma constante que perdura até
que não haja mais uma razão para continuar a odiar, o que por sua vez pode
implicar toda uma série de vertentes, desde contrariar a acção que começou
tudo, ou deixar que o ódio leve a melhor.
O ódio em si é uma chama e, como a chama que é, necessita
de combustível para se sustentar. Na ausência de novos episódios, irá forçar o
seu hóspede a recordar o momento em questão e a avivar-se no processo. Perante
esta situação, cabe ao hóspede ser capaz de encontrar uma alternativa, ou
simplesmente sucumbir à chama.
O ódio é natural na sua génese, sendo uma das partes
obrigatórias na imperfeição da condição humana, e apesar de destrutivo, quando
controlado, pode ser uma ferramenta valiosa. Quando o controlo é assegurado, o
hóspede não arderá. Já o mesmo não se pode dizer do que o rodeia, ou daquilo
que mais lhe interessa.
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