segunda-feira, 7 de março de 2016

Por entre o nevoeiro

           Lembro-me de uma cidade coberta por um espesso misticismo. Ninguém parece saber onde a encontrar e alguns defendem que ela nem sequer existe, mas eu sei que é verdade, e sei porque estive lá. Várias foram as vezes, sete para ser exacto, e todas elas culminaram nao melhor decisão que eu podia ter tomado. Tudo começa pelo princípio máximo da cidade: tu não a encontras, ela chama-te e tu simplesmente segues o caminho que ela te tece. Uma vez lá, começam os desafios e os enigmas. A brutalidade e o grotesco ao início fazem-nos temer a cidade e quem nela habita, mas é algo que cresce em nós e é só uma questão de tempo até nos apercebermos que ela quer o nosso melhor, como se de uma outra mãe se tratasse. Eu, que por nela, deambulei falo em sua defesa. Lembro-me com saudade do nevoeiro que me cumprimentou, do silêncio das ruas, das monstruosidades intrínsecas que pretendem desfazer-me e devorar-me. Lembro-me com saudade das lições por detrás desta dura aprendizagem, e sinto-me na necessidade de voltar a estas provações.

            Infelizmente, algo aconteceu à cidade. Sinto o seu chamamento, sigo-o até ao limite das minhas forças, mas nada encontro. Reconheço onde ela deveria estar, mas não há sinal. Ela não está em parte alguma, mas sinto-a a chamar por mim. O seu nevoeiro ainda existe. É ele que me mostra o caminho, mas até agora não encontro nada.

            O sofrimento é atroz. Vejo as mesmas monstruosidades na realidade em que vivo, mas não tenho mão nelas. Não vejo nelas o meu reflexo nem uma sombra de qualquer aprendizagem digna de se ter. Na cidade é diferente. Ela dá-me os meus medos. Coloca-os à minha frente e, apesar do terror, ela diz-me que é possível superá-los. Eu assim faço, assim aprendo, e assim vagueio.

            Onde estás? Uma vez mais preciso de ti e da tua sabedoria! É esta mais uma provação? Já não existem manifestações? Já não há nada para se temer? Mas preciso de ti e sinto o teu chamamento! Aprendi demasiado contigo para saber que não me iludo, o que só pode querer dizer que estamos em sintonia!

            Ambos os mundos, ambas as realidades, não são mais que lados opostos de um espelho, e esse espelho sou eu. Mas é na tua parte que eu pertenço e é nela que eu preciso de estar! Sei que não para sempre pois não é assim que é suposto ser, mas para já, neste momento em particular, nesta altura de necessidade, é o que preciso.

            O nevoeiro está mais denso… aqui estou…

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