- Ainda te lembras da
primeira vez que viemos aqui? – perguntou ela, deitada ao seu lado à beira mar,
banhados pelo pôr do Sol.
- Algo de muito errado teria que se passar comigo para me
esquecer – respondeu ele, olhando-a nos seus olhos de um castanho cintilante –
foi precisamente aqui que me engasguei todo e fiz figura de parvo enquanto te
pedia em namoro.
Tais palavras fizeram-na soltar uma leve gargalhada, algo
que o deixava sempre com um sorriso nos lábios.
- Não fizeste figuras nenhumas. Eu achei fofo.
- Então lembramo-nos do mesmo episódio de forma
diferente.
- Será? – perguntou ela – estávamos aqui mesmo, a convite
teu por supostamente teres um sítio que querias partilhar comigo, e depois pegaste
nas minhas mãos – palavras que se concretizaram, tomando delicadamente as mãos
dele e acariciando-as.
- E depois…
- E depois – interrompeu-o ela – disseste que me amavas,
na forma mais bela que alguém podia alguma vez ouvir.
- Ao fim de quantas tentativas é que as palavras deixaram
de sair aos tropeções? – perguntou ele, rindo-se.
- Não foi nada assim, tolo – disse ela, retribuindo o
gesto – era perfeitamente normal.
- Dizer à rapariga mais bonita à face da Terra e com quem
nunca teria sorte nem mesmo nos meus sonhos que a amo? Sim, é perfeitamente
normal engasgar-me.
Voltaram a rir-se mais uma vez, como duas inocentes
crianças no decorrer de uma inocente brincadeira.
- Mas agora a sério – continuou ele, passando a mão pelo
rosto dela – amo-te.
- Eu sei – disse ela, acariciando essa mesma mão – e espero
que saibas que sinto o mesmo por ti, e que te vou amar para todo o sempre.
- Eu sei, e sou o homem mais sortudo à face da Terra por
o saber.
Olharam-se durante largos segundos enquanto a suave brisa
os cobria e a maré se aproximava lentamente dos seus pés descalços. O seus
rostos aproximaram-se, e quando os seus lábios estavam prestes a tocar-se, tudo
escureceu. A imagem desapareceu, e o silêncio reinou. É mesmo verdade o que
toda a gente diz, se bem que com algumas diferenças. Não é a nossa vida inteira
que passa à frente dos nossos olhos quando estamos prestes a morrer, mas sim os
momentos que fizeram valer a pena vivê-la. E foi esta a última coisa que ele
viu antes de ter uma bala a perfurar-lhe o crânio no decorrer de um qualquer ajuste
de contas.
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