sábado, 23 de julho de 2011

Politicamente Incorrecto

           Um ano lectivo passou, e como todos os outros, acabou com uma série de exames. Para os alunos mais bem preparados e confiantes, tais provas não representavam qualquer ameaça, embora sejam fundamentais para o curso, Universidade e profissão a seguir. O resultado final é que foi um choque. Alguns dos melhores alunos da turma chegaram a tirar resultados negativos, e a esmagadora maioria dos que se mantiveram acima da positiva, não conseguiram impedir a descida de no mínimo um valor àquela disciplina. A reacção dos meios de comunicação social foi inevitável perante aquele que foi o pior resultado nos últimos catorze anos. Professores e ministros surgiram a dizer que os alunos se deviam empenhar mais, e houve mesmo quem dissesse que os alunos devem deixar de negligenciar a língua portuguesa. Daqui surge uma pergunta curiosa: se os alunos negligenciam a língua portuguesa, o que é que se pode dizer dos ministros que defendem a aprovação do novo acordo ortográfico? Que não se esqueça que o novo acordo ortográfico acaba por formatar de raiz aquela que ficou conhecida como a língua de Camões.

            Ao olhar com uma maior atenção para estes ditos exames, acabamos por nos aperceber que grande parte da culpa não é dos alunos, mas sim dos critérios de avaliação. O maior dos erros notou-se no exame de Português, logo na primeira questão, em que grande parte dos examinandos apresentou sentimentos em vez de sensações, sendo galardoados, nessa questão, com um redondo zero. Contudo, das diversas definições de sensação presentes no dicionário, uma delas é a seguinte: facto psicológico provocado pela excitação de um órgão sensorial, e como é comummente sabido, os sentimentos são algo psicológico, e não físico. Continuando no exame de Português, um dos erros crassos foi atribuírem uma classificação objectiva a algo inteiramente subjectivo, que é a lírica. Apenas o poeta sabe o verdadeiro significado do poema que escreveu, e o porquê de o ter escrito, tudo o resto são especulações. Pode ter-se notado, e isto em todos os exames, uma ou outra má cotação da estrutura da resposta, mas aí é perfeitamente compreensível porque nem todos os professores que ficam encarregues de corrigir exames são pagos, e é normal que certos elementos escapem. Mas isso não justifica a má construção dos critérios de avaliação. Não é por terem o cargo que permita moldar a língua e a cultura portuguesa que têm o direito de o fazer. A língua portuguesa é de todos nós, e grande parte dos segredos da sua cultura foi enterrada com os artistas que ajudaram a construí-la.









Ass: Daniel Teixeira de Carvalho          

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